A história da Bela Adormecida é conhecida de todos nós, mas foi o filme de 1959 da Walt Disney que a divulgou mais, conseguindo ainda a proeza de nos apresentar umas das vilãs mais famosas e temíveis de sempre: Maléfica. Quando soube que iam fazer um filme sobre esta personagem (tendência actual de adaptação dos contos de fadas) fiquei cheia de expectativa, especialmente quando soube que seria a Angelina Jolie a dar-lhe vida.
A Maléfica é, como todos sabem, uma fada. O que este filme nos conta é que inicialmente ela era uma fada boa e adorada por todos, e que vivia no reino de Moors, o qual era frequentemente atacado pelo reino dos humanos, que consideravam os muitos seres mágicos que lá existiam como aberrações e demónios.
Contudo, um rapaz chamado Stefan consegue entrar no reino de Moors e acaba por desenvolver uma forte relação de amizade, e mais tarde amor com Maléfica. Stefan era pobre e tinha uma incomensurável ambição e ganância, e à medida que cresce, acaba por se afastar de Maléfica. Para conseguir o seu objectivo, ser rei, ele trai Maléfica de uma forma arrasadora e que, pouco a pouco a transforma em... Maléfica. Que já era o seu nome. Antes de ser má. Faz sentido.
Este é o primeiro dos muito plot holes ou falhas no argumento do filme, e talvez o mais premente, pois está na base de toda a história. Se ela era uma fada boa, porque raio é que se havia de chamar Maléfica? Na minha perspectiva, a Maléfica sempre foi maléfica, sempre foi má, cheia de escuridão até ao mais profundo do seu ser.
Mas, sem querer desvendar muito, nesta história, a Maléfica nasceu e cresceu boazinha, só que teve muito azar com os paizinhos ou com as madrinhas que lhe deram este nome, e que basicamente as condenaram a uma vida em que ela é uma fada boa mas chamam-lhe má (esta última parte fui eu a divagar, porque o filme não conta como é que lhe saiu este nome na rifa). Bela maneira de traumatizar uma criança. Depois é traída na idade adulta e finalmente rende-se ao seu nome. Chega finalmente o momento da sua vingança quando descobre que o rei, aquele que a traiu teve uma filha, Aurora. E assim ela invade a festa e amaldiçoa a princesinha. Esta transição para o dark side e as suas consequências duram aproximadamente 15 minutos. E é só dura este período que a Maléfica é, realmente, Maléfica. Ah. Faz sentido. Afinal a Maléfica não é uma vilã. É fofinha e boazinha. Qualquer dia é promovida a princesa da Disney.
O vilão do filme acaba por ser o rei Stefan (Sharlto Copley), mas não tem nem um terço da piada, do carisma ou da ruindade de Maléfica durante aqueles 15 minutos. É o típico vilão dominado pela ganância e cego pela vingança pelo que Maléfica fez à filha.
Infelizmente este filme ainda consegue destruir as fadinhas boas. Sim, a Flora, a Fauna e a Primavera mudaram de nome, e transformaram-se numas versões humanas do Alvin e os esquilos, pois as suas vozinhas são do mais irritante do que há. Além disso ainda se tornam negligentes, abandonando Aurora por diversas vezes, não sabendo cuidar dela, e não se esforçando minimamente para a proteger. São ainda capazes de mentir, egoístas e numa palavra são umas tontas. O único resquício que resta das personagens originais são mesmo as suas cores.
Como grande ponto positivo nas personagens, temos o corvo, Diaval (Sam Riley), que foi resgatado por Maléfica, e que constrói com esta a única relação realmente interessante do filme, sendo por ela transformado em diversas criaturas, conforme a necessidade.
Tudo isto para explicar como o argumento é fraco e a construção das personagens é inexistente. A nível de efeitos especiais é inegável o quanto o filme está bom. O reino de Moors faz a delícia da nossa imaginação, assim como as suas criaturinhas, se bem que estas são um pouco infantilizadas demais. A maquilhagem também está muito boa, basta olhar para a cara da Angelina. O guarda roupa é bom, mas há um certo momento Catwoman/ Tomb Raider com cornos que não se percebe e é um tanto ou quanto ridículo. A banda sonora, mal dei por ela, apenas a canção final “Once upon a dream” na voz melancólica de Lana del Rey é memorável.
Existe uma e uma só razão para ver o filme: Angelina Jolie. Não há palavras para descrever como este papel lhe assenta que nem uma luva, como ela consegue ter o porte e a elegância de Maléfica, um timbre cativante e misterioso, as expressões faciais, etc. etc. Verdadeiramente perfeita!!!
Em resumo, esperava mais, muito mais. A história destrói uma das maiores vilãs de sempre, mas o filme vê-se bem e entretém, transportando-nos para um mundo mágico. Vale a pena ver pela Angelina.
Classificação: 5/10