Como sabem, nestes passados três dias decorreu a Festa do Cinema, em que os preços dos bilhetes foi bastante mais baixo. Ora esta foi uma oportunidade que eu, tal como muita outras pessoas, não deixei passar em branco e aproveitei para tirar a barriga da miséria e ir ao cinema. Infelizmente, por esta altura não havia assim muitos filmes que me apetecesse pagar para ver, tirando este Capitão Falcão. Quando comecei a ouvir falar sobre este filme, pensei que seria apenas mais um filme português, como tantos outros, mas à medida que ia ouvindo comentários de amigos e lendo críticas, decidi-me a ver o trailer e desde logo fiquei com imensa vontade de ver o filme.
Assim, posso dizer-vos, caros camaradas que tal como eu partilham do preconceito contra o cinema português, que sim, é seguro ver o Capitão Falcão, e que sim, esta é a comédia satírica e de costumes pela qual estávamos à espera!
Recuemos até 1958. O General Gaivota (Miguel Guilherme) está encarregue de escolher o melhor soldado português para uma missão especial. Anos depois, o seu escolhido é agora o herói lusitano pelo qual a nação portuguesa esperava, o Capitão Falcão (Gonçalo Waddington). Ao serviço do Estado Novo e do seu muito amado Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar (José Pinto), o Capitão Falcão defende os valores patrióticos com a ajuda do fiel Puto Perdiz (David Chan Cordeiro), lutando contra as perigosas feministas, os incansáveis comunas, e (cuidado com eles!) os temíveis Capitães de Abril!
De tom marcadamente satírico, Capitão Falcão é um filme que aposta num tom de exagero para criticar de uma forma leve o período do Estado Novo, cuja memória ainda é bem presente na nossa sociedade, e com a sua ideologia. Assim, desta feita, os heróis são os homens deste regime, enquanto que os vilões são aqueles que defendem a liberdade, ou simplesmente ideias diferentes.
Desde o início do filme que este nos conquista facilmente, seja pela cena de apresentação dos personagens, seja pela sequência de abertura, estilizada como a banda desenhada. A partir daí, o nível do filme é sempre de grande qualidade, contando-nos uma história extremamente divertida, que assenta principalmente na belíssima interpretação de Gonçalo Waddington, um grande actor de comédia, como já sabíamos, e que com o seu overacting nos dá um Capitão Falcão com momentos impossíveis de esquecer, e de ir às lágrimas a rir.
O restante elenco também é bastante bom, especialmente Miguel Guilherme, José Pinto e Rui Mendes, que interpreta o Professor Peninha e que criam personagens caricaturadas deliciosas. As cenas de acção estão ao mais alto nível, fazendo deste um filme que brilha também pela sua aposta em dar-nos lutas muito bem coreografadas. A realização, fotografia e todos os adereços e guarda-roupa fazem deste um filme extremamente atento aos pormenores, e que investiu bastante na fiel caracterização dos seus personagens e ambientes. Não podia deixar de comentar que este filme vos trará muitas referências à memória, seja do mundo do cinema e da banda desenhada, seja pelo facto de gozar a valer com os estereótipos portugueses.
Capitães de Abril em modo Power Rangers
Relativamente a pontos fracos, apesar de ter pouco mais do que uma hora e meia, penso que não lhe faria mal ter abreviado algumas cenas mais longas. Também não é de espantar que neste filme já saibamos o que vai acontecer a seguir, sendo que mesmo os twists introduzidos não foram assim tão surpreendentes. Finalmente, como principal nota negativa, houve várias vezes em que foi difícil perceber os que os personagens diziam, apesar do som na sala de cinema estar bastante alto e o público em silêncio. De qualquer forma, são pequenas falhas que não me impediram de todo de me divertir imenso com este filme e de melhorar a minha opinião em relação ao cinema português. Devíamos fazer mais filmes assim!
Classificação: 7/10
P.S. Tem uma cena pós créditos, não deixem de ver!