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La Vie en Chérie

Para os apaixonados por moda, cinema, livros e por uma vida doce e divertida

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Livraria chérie #11 - Orgulho e Preconceito

Devo, antes de mais, confessar que li este livro totalmente desprovida de conhecimento face à sua narrativa. Nunca vi o filme, não conhecia a história, sabia apenas que se tratava de um romance, o que a início não se revelou um facto muito apelativo para mim. Este estilo literário não faz de todo as minhas delícias. No entanto, estaria para chegar o livro que mudaria essa minha vincada opinião – Orgulho e Preconceito.

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Escrito por Jane Austen e publicado pela primeira vez em 1813, este romance britânico procura dar a conhecer a história de Elizabeth Bennet e de toda o seu ambiente social e cultural. Temas como a educação, o casamento, a cultura, a moral, o orgulho e a classe social tornam-se recorrentes e representativos da aristocracia britânica do século XIX.

Nas primeiras páginas é-nos apresentada a família Bennet, sendo o patriarca um homem distante e com pouco poder económico. Por sua vez, a Srª. Bennet revela-se desde logo uma mulher superficial, tola e desinteressante, cujo objectivo e expoente máximo de felicidade é “ver todas as suas filhas bem casadas”. As referidas filhas são Jane (a mais velha), Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia (a mais nova), que vivem com os pais na cidade de Meryton, em Hertforshire.

No início desde romance, de modo a corresponder aos desejos da Srª. Bennet, chega à cidade um jovem cavalheiro que aluga uma propriedade (Netherfield). De seu nome Charles Bingley, é rapidamente cobiçado e bem recebido por toda a comunidade. Porém, Mr. Bingley não vem só, fazendo-se acompanhar pela sua irmã e um amigo – Mr. Fitzwilliam Darcy. Este último, de ar sorumbático e algo orgulhoso é desde logo desdenhado pela comunidade, pela qual o próprio acalenta o mesmo sentimento. Entretanto, Jane e Bingley começam a relacionar-se, no entanto, a felicidade não é duradoura, e por meio de artifícios maldosos de outros, acabam por se separar, acreditando que a paixão morreu.

Entre Elizabeth e Mr. Darcy surge igualmente uma relação, mas de despique, caracterizada pela indiferença dele e vivacidade dela, diferente de todas as outras do seu meio. Com a partida de Darcy, Elizabeth inicia uma relação de amizade com Mr. Wickham, um oficial que ajuda a alimentar as divergências entre Elizabeth e Darcy.

Não quero de todo estragar o prazer daqueles que tenham intenção de ler o livro, portanto, em matéria de sinopse acho que vou ficar por aqui. A história não requer muita perspicácia da parte do leitor, pois torna-se bastante previsível qual o seu desfecho, desde os capítulos mais iniciais. No entanto, apesar de o factor surpresa estar condicionado, a narrativa é excelente e acompanhada por uma escrita irrepreensível.  

Quanto às personagens estão fantásticamente criadas, evoluindo todas ao longo do livro, sendo que não existem personagens desnecessárias ao curso da história.

Numa sociedade não muito diferente da actual, valores como a educação, a cultura, a classe social, o matrimónio e os ideais são constantemente colocados em questão. Jane Austen, procura, em jeito de crítica, deixar o leitor inferir acerca do orgulho e do preconceito vivido nesta época. Será que estes sentimentos se extinguiram no tempo, ou continuarão afincados na sociedade contemporânea?

A minha classificação não atinge a cotação máxima, apenas pela questão do factor surpresa. Crucifiquem-me mas sou uma leitora que gosta de ser compreendida e aqui, apesar de ser uma excelente obra, o desfecho revela-se previsível mesmo que não nos seja permitido antever o rumo que a história vai tomar até lá.

 

Classificação:

 

Livraria Chérie #10 O Espião Que Saiu do Frio

Terminei hoje a leitura de O Espião que Saiu do Frio, um livro de espionagem do escritor britânico John Le Carré, que foi publicado em 1963 sob o título The Spy Who Came in From the Cold, e que foi considerado pela revista Time como um dos 100 Melhores Livros de Sempre. 

A acção decorre no pós-guerra, durante o período da Guerra Fria, em que o mundo da espionagem atingiu o seu apogeu, sendo que o nosso protagonista, Alec Leamas, faz parte deste mundo, e encontra-se num período de transição, tentando encontrar uma forma de deixar esta vida e regressar ao mundo civil - basicamente, sair do frio. Para isso é-lhe oferecida uma missão perigosa e bastante importante, a qual ele aceita e que ao longo das mais de 200 páginas deste livro, nós vamos acompanhar.

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A principal característica deste livro é que desde o início que somos envolvidos no meio da acção e temos de tentar "encontrar o nosso lugar"; ou seja tentar perceber o que está a acontecer, onde e quando decorre a história, quem são os seus intervenientes e o que está realmente nas suas mentes. Acabamos por funcionar também nós, de certa forma, como espiões que assistem a uma história que não é a sua, e que tentam discernir pistas e pensamentos ocultos. Este factor funciona tanto como um factor positivo como negativo. Por um lado obriga-nos a mantermo-nos sempre atentos, a ler nas entrelinhas e a tentar compreender o que se está a passar, mas por outro lado torna-se muitas vezes difícil acompanhar o que está a acontecer e principalmente o porquê de estar a acontecer. Acaba por ser um pouco confuso, especialmente porque apesar da história ser conduzida de forma linear, a verdade é que por vezes parece não haver uma ligação entre os capítulos, especialmente no último terço do livro.

A escrita de John Le Carré é agradável, minuciosa e marcada principalmente por diálogos, o que é natural tendo em conta o tema, mas é também complexa no sentido de que é dada muita informação sobre a qual nós pouco ou nada sabemos. 

Esperava um pouco mais deste livro, tendo em conta que já foi considerado o melhor romance policial, esperava que tivesse mais acção e adrenalina, que me deixasse mais "presa" e com vontade de ler sempre mais, mas não foi isso que aconteceu. Apesar disso, gostei porque é um livro bem construído e com uma boa reviravolta final, e além disso tem um protagonista extremamente interessante, com uma grande agilidade mental. Outros factores de que gostei foi ter ficado a saber um pouco mais sobre esta época, bem como as discussões filosóficas sobre o que está realmente em causa: o indivíduo versus o todo, a moralidade versus a razão.

 

Classificação: 

Como curiosidade, sabiam que este livro já foi adaptado ao cinema em 1965 e que recebeu duas nomeações aos Óscares? Podem ver mais aqui.

Livraria chérie #9 - O Corvo

Na semana passada, antes de começar o livro que se encontra na “Estante Chérie”, li um de menores dimensões. Trata-se de “O Corvo” de Edgar Allan Poe, pela tradução de Fernando Pessoa.

 

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The Raven, como foi denominado na versão original, foi publicado pela primeira vez em 1845 no New York Evening Mirror. É uma das obras representativas do legado de Poe, quer pela musicalidade que apresenta, quer pelo obscurantisco sobrenatural e simultaneamente romântico que apresenta.

No início do poema, encontramos um homem de hábitos nocturnos, numa atmosfera de medo e mistério, que ouve batidas na porta. É, então, aqui que dá início o jogo mental entre esse homem e aquilo que o espera do outro lado. Será alguma criatura sobrenatural?

Não está ninguém à porta. Atormentado, o homem volta à sua posição inicial, recordando melancólica e tristemente a saudade que sente pela sua falecida amada Lenora. Porém, o homem não consegue sossego, as batidas voltam irrepreensíveis, desta vez disferidas na janela. Inicialmente atribui o barulho ao vento, mas rapidamente, abre as janelas, entrando um visitante inesperado. Este visitante é o corvo, que se instala no busto da deusa Atenas.

O homem tenta conversar com o corvo e, é espantado que descobre que o mesmo fala, quando a ave grasna “nunca mais” a todas as perguntas do anfitrião. Esta repetição continua por todo o poema, predispondo o homem a um estado de angústia enorme.

 “Nunca mais” haverá alívio na dor pela perda de Lenora. “Nunca mais” haverá alívio do sofrimento sentido”

 

O desespero no eu poético é grande, e este acaba por perceber, através das palavras proferidas pelo corvo, que “nunca mais” é, no fundo, a sentença ditada para o seu sofrimento, acabando ele por proferir as mesmas palavras, no final da obra.

O corvo, protagonista principal desta obra, pretende representar a morte, o prenúncio fatal, a perda irreparável, o inevitável fim. Porém, no fim, este repousa sobre o busto de Atenas, a deusa da sabedoria, simbolizando a perda eterna que se apoderou da alma do indivíduo.

A métrica agradável e a musicalidade ideal conferem a este poema aquilo que lhe falta em romantismo, sendo principalmente dominado pelas trevas e obscurantismo associado à perda de alguém querido.

 

Classificação: 

Livraria chérie #8 - Morte no Nilo

Death on the Nile, ou Morte no Nilo, no título que recebeu por terras lusas, é um romance policial de Agatha Christie. Publicado em 1937, é uma das mais célebres narrativas das aventuras do detective Hercule Poirot.

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A linha histórica começa muito antes dos acontecimentos principais do livro, procurando situar o leitor, dando-lhe a conhecer as personagens e certos pormenores que futuramente serão importantes.

Encontramo-nos então em Inglaterra, e Linnet Ridgeway é uma mulher que dispõe de tudo na vida: carisma, beleza, dinheiro e estatuto social. O que Linnet não tem é amor, mas rapidamente se apodera do namorado da sua melhor amiga, Jacqueline de Bellefort – Simon Doyle. Para fúria de Jackie, Simon abandona-a, casando com Linnet e partindo de lua-de-mel para o Egipto.

Assim, é a bordo do barco que navega no Nilo que a maior parte da acção se desenrola. A bordo encontra-se o recém casal, mas também Jacqueline, que num acesso de desespero começa a perseguir os Doyle. Neste navio – Karnack – encontramos entre todas as outras personagens, o famoso detective Hercule Poirot, que se encontra a gozar férias. No entanto, este é obrigado a intervir quando é encontrado o corpo de Linnet, com um tiro na cabeça. Tudo aponta para Jacqueline... Mas será a solução assim tão óbvia? Seria ela a única com motivo para cometer um crime tão horrendo?

Tendo como cenério as paisagens quentes e exóticas do Egipto, todos parecem culpados, todos teriam um motivo, mas afinal de contas quem é o assassino? A este dilema, junta-se um velho amigo de Poirot, o Coronel Race, que se encontra também à procura de um homicida mundialmente procurado. Estarão ambos os casos relacionados, ou será apenas uma coincidência infeliz?

Mais uma vez Agatha Christie, com a sua escrita exímia, capta o leitor desde o primeiro momento, levando-o a elaborar as mais variadas teorias e conjecturas. Ao contrário da maioria dos livros da autora, aqui sabemos já de antemão quem será a infeliz vítima, porém, o assassinato demora algum tempo a ocorrer, o que deixa o leitor num clima de tumulto e desconfiança. Mas lembrem-se, a bordo do Karnack nada é óbvio, nada é coincidência, nada é o que parece e tudo se desvanece numa linha turva entre o possível e o impossível.

 

Teria Linnet a vida perfeita que parecia ter? Ou viveria numa paz podre, onde todos eram seus inimigos?

O crime terá sido cometido por impulso ou foi premeditado?

Quem será o assassino?

 

Hercule Poirot é o homem com resposta a estas questões. A estas e a muitas mais, pois toda a gente esconde um segredo e, 

Muitas vezes, o trabalho de detective passa por eliminar todos os falsos começos e começar de novo.

 

Classificação

Livraria Chérie #7 O Grande Gatsby

Depois de muitas idas e vindas, e de ter relido as  primeiras páginas de O Grande Gatsby uma vintena de vezes, sem que nunca tivesse passado daí, finalmente terminei a leitura daquele que é considerado um dos grandes clássicos da literatura do século XX. Foi publicado pela primeira vez em 1925, e foi escrito por F. Scott Fitzgerald, que dizia que "gostaria de ser um dos maiores escritores que já viveram!", e que tem neste livro aquela que é considerada  a sua obra-prima. 

A história de Jay Gatsby, o homem que viveu na ilusão de um sonho, é-nos contada na primeira pessoa por Nick Carraway, um jovem natural da região do Midwest, que se muda para Nova Iorque em 1922, e cuja casa que aluga o deixa lado a lado com a mansão de Gatsby, o misterioso milionário acerca de quem circulam inúmeros rumores, por parte daqueles que, todas as noites, se dirigem à sua moradia para mais uma das suas festas. É também nesta altura que Carraway reencontra a sua prima Daisy, entretanto casada com Tom Buchanan e que, por ironia do destino, se encontra irremediavelmente ligada a Gatsby. Esta teia de personagens e sentimentos levará a um desfecho impossível de abrandar, que alterará definitivamente a percepção que Carraway tem do mundo.

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Ao longo das páginas de Gatsby, embarcamos numa viagem até à idade do jazz, os loucos anos 20, nos quais se viveu uma grande prosperidade pós-guerra, e que ficou para sempre associada ao excesso, ao glamour e à decadência. Além destes temas, Fitzgerald foca-se na importância dos estratos sociais da época, na resistência à mudança e na luta por um sonho que no final se esfuma, quando está prestes a ser alcançado. 

Tendo visto o filme de 2013 que adaptou o livro, já conhecia o destino das personagens e as suas personalidades. Obviamente que ao ler o livro pude conhecê-las muito melhor, mas tal como o filme, também o livro me dividiu. Se por um lado, foram vários os momentos em que achei a escrita de Fitzgerald muitíssimo inspirada, também foram muitos os momentos em que me aborreci e tive de me obrigar a continuar a ler. Outra das minhas dificuldades com este livro foi, tal como já tinha acontecido no filme, a minha não-identificação com nenhum dos personagens. Não consegui estabelecer nenhuma relação de empatia com nenhum deles que me fizesse realmente interessar-me pelos seus futuros. Apesar de tudo, foi talvez com a personagem de Gatsby que consegui estabelecer alguma afinidade por me solidarizar com a sua procura por um futuro melhor e pela desgraça em que cai.

Cada uma das personagens funciona quase como uma personagem-tipo. Em comum, todas elas vivem num estado de permanente insatisfação e na constante procura de algo que lhes preencha as suas vidas que, recheadas de luxo, são apesar de tudo, vazias. De todas elas, Carraway é o personagem mais maduro, mas que durante a acção funciona mais como um espectador das vidas dos outros, deambulando ao sabor das suas decisões. Gatsby, por sua vez, é o homem que cria o futuro com que sonhou baseado "na concepção platónica que tem de si mesmo", e que vive na ingenuidade de que o passado se pode repetir, e de que o amor é superior às convenções sociais.

Descrito como um romance trágico, O Grande Gatsby funciona acima de tudo como o testemunho de uma sociedade rica, fútil e decadente, descrevendo-a ao pormenor através de situações quotidianas, e deixando à capacidade crítica do leitor a análise desta época e destas pessoas. Foi esta perspectiva que mais gostei de ler no livro, esta amargura com que o autor descreve a vida e o ser humano. Em última análise, gostei da leitura deste livro e da perspectiva que me ofereceu, mas ficou aquém das minhas expectativas.

 

"(...) o sonho deve ter-lhe parecido tão próximo que só dificilmente poderia escapar ao seu abraço.

Não sabia que o sonho era já uma coisa do passado (...)"

 

Classificação: 

Livraria Chérie #6 – O Fantasma da Ópera

Foi ontem que (finalmente) terminei o livro que estava a ler – O Fantasma da Ópera – no frânces original Le Phantôme de l’Opéra. Esta obra de Gaston Leroux foi publicada pela primeira vez em 1909, sendo inspirado em factos históricos da Ópera de Paris.

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Leroux começa a narrativa com a frase “O fantasma da ópera existiu (...) Sim, existiu de carne e osso (...)”, o que cativa logo o leitor em primeira instância. A acção passa-se no século XIX, na Ópera de Paris (como o próprio título indica), que se encontra assombrada por um Fantasma, segundo as historietas dos empregados. Este vive de partidas que prega constantemente, e obtém o seu rendimento mensal da chantagem que efectua aos administradores da Ópera, que lhe pagam 20 mil francos mensais. A personagem terrível exige ainda que lhe reservem o camarote nº5 em todas as actuações.

Entretanto Christine Daaé, uma jovem bailarina, é guiada por um Anjo da Música, enviado do céu pelo seu falecido pai. Esta criatura mostra-lhe o poder da sua voz e todo o sucesso que pode alcançar com ela. Christine acaba por subir aos palcos como cantora, arrebatando e conquistando a audiência, onde se encontrava o seu amor de infância – o visconde Raoul de Chagny.

Mais tarde, Christine compreende que o Anjo não existe, e que este é sim personificado pelo Fantasma, o índividuo que aterroriza a Ópera. Erik, o Fantasma, encontra-se deformado na face, razão essa por que se esconde do mundo desde sempre. Quando Christine descobre a fealdade da criatura entra em choque e Erik decide prendê-la nos subterrâneos do monumental edifício. Christine vê-se então obrigada a escolher entre o amor de uma vida ao lado de Raoul de Chagny ou a protecção do mesmo. Esta promete então que voltará sempre para Erik por vontade própria. Mas o amor que sente por Raoul é mais forte e os dois planeiam fugir. No entanto, Erik apercebe-se do plano e na noite idealizada para a fuga, rapta Christine e leva-a para a sua morada nos confins da Ópera.

Raoul e o Persa (personagem que conhece tudo acerca de Erik) partem numa busca para salvar Christine, sobrevivendo às mais terríveis armadilhas e obstáculos. Entretanto, Daaé vê-se obrigada a casar com Erik ou morrer juntamente com “mais dos da raça humana”.

A escolha é óbvia, Christine escolhe casar com Erik. Porém, num rasgo de bondade este permite-lhe que fique para sempre com Raoul, desde que no momento da sua morte lhe venha colocar a aliança de ouro que lhe havia dado, no dedo. Christine concorda, e tanto ela como Raoul nunca mais são vistos. Porém, anos mais tarde é encontrado um esqueleto nos fundos da Ópera, com uma aliança dourada. Christine havia cumprido a sua promessa...

Esta obra-prima de Gaston Leroux é considerada de género gótico, romance, horror, ficção, mistério e tragédia. O horror deriva de todas as malvadezas que circulam na cabeça de Erik, e que este conduz à execução.

Não seria apenas uma alma incompreendida? Não teremos todos nós um pouco de Erik? No fundo o que mais almejamos na vida é ser amados por alguém, pois o amor que nutrem por nós não tem preço.

Recomendo vivamente a todos os que querem ler os grandes gigantes da literatura, pois esta obra deixa-nos a pensar no que seríamos capazes de fazer por amor, e talvez até a identificarmo-nos com Erik, que é supostamente o vilão que não nos deixa indiferentes.

Hoje em dia a história é mais que conhecida, e talvez um pouco ofuscada pelos musicais (é o mais visto de sempre!), filmes e todas as produções realizadas em torno da obra. Porém, eu acho que merece a classificação de:

 

Classificação: 8/10

Livraria Chérie #5 - Cem Anos de Solidão

Terminei hoje o livro Cem Anos de Solidão, e confesso-vos que apesar de já saber a frase final há muitos anos, isso não impediu que as lágrimas se apoderassem dos meus olhos. Sem dúvida alguma o melhor livro que li até ao momento, pois apesar de ser concebido em torno de todo um realismo mágico, consegue aprisionar o leitor.

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Gabriel García Marquez, escritor colombiano dotado de uma destreza literária enorme, ganhou o nobel em 1982. Com este Cem Anos de Solidão, garante a posição nº33 dos 100 livros do século segundo o Le Monde. Este tão aclamado romance, denominado Cien Años de Soledad na língua materna em que foi redigido, reporta, como já referi, ao estilo do realismo mágico. Leva-nos a deambular por Riohacha e Macondo, locais fictícios e místicos, perdidos e encontrados nas Caraíbas, onde encontramos a família Buendía, uma família incestuosa, que nasce da relação de José Arcadio com a sua prima Úrsula. O casal tem três filhos, José Arcadio, extrovertido e trabalhador, Aureliano, calmo e solitário e Amaranta. No decorrer da história são contadas ao leitor as vivências de cada uma das personagens, assim como a sua evolução ao longo da narrativa.  Acompanhando sete gerações Buendía, deparamo-nos com milagres, fantasias, obsessões, incestos, tragédias, adultérios, rebeldias, descobertas e condenações, que em simultâneo representam o mito e a veracidade que se faz viver em todo o mundo. Filhos, netos, bisnetos, trinetos, tetranetos, são apresentados, assim como personagens exteriores à família, indispensáveis ao decurso da narrativa.

Repleto de características e especificidades que o tornam único, este romance tem a particularidade de contar com uma personagem centenária que acompanha todas as gerações, dando conta das características e mentalidades de todos os descendentes. A par com isto, como se o nome determinasse a natureza da pessoa, todos os herdeiros com o nome José Arcadio têm a vida marcada por impulsos, trabalho árduo e vida boémia. Por outro lado, todos os Aurelianos são justos, pensativos e melancólicos. Estes últimos, adquirem uma missão, ao longo da história, e que no fundo é o fio condutor de todas as peripécias: desvendar os pergaminhos escritos pelo nómada Melquíades, amigo da família. No entanto, prediz-se que estes contam a história da família Buendía, desde o primeiro membro, ao último, e apenas poderão ser decifrados quando tiverem decorrido cem anos e o derradeiro descendente estiver às portas da morte.  

Sem dúvida genial, bem escrito e que me deixa com vontade de recomeçar a ler, só para voltar a viver com os Buendía outra vez. O único conselho que posso transmitir é que adquiram uma edição com árvore genealógica ou então que imprimam uma da internet, porque as personagens têm nomes similares e confesso que me perdi algumas vezes e tive que recorrer a esse instrumento.

 

"(...) porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra."

Livraria Chérie #4 A Casa Torta

Se já repararam na nossa Estante Chérie (em baixo, à direita) certamente verão que este livro não faz parte dos que nos tínhamos proposto a ler. Contudo, como há uns meses comprei, entre outros, dois livros da Agatha Christie e O Grande Gatsby não me andava a entusiasmar, comecei a ler este. Foi o meu oitavo livro desta escritora que tanto adoro, apelidada de A Rainha do Crime ou a Duquesa da Morte, como a própria preferia, e foi publicado pela primeira vez em 1949, sendo um dos favoritos da própria autora.

Devo dizer que, na produção de um autor, cinco livros são trabalho, e apenas um dá verdadeiro prazer.

A Casa Torta foi puro prazer.

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Charles Hayward, recém regressado a Inglaterra, depara-se com uma notícia que lhe dá a conhecer que o avô da sua noiva Sophia Leonides morreu recentemente. Aristide Leonides era um emigrante grego que enriqueceu muito à custa de um grande faro para os negócios e que, apesar de ser já bastante avançado em idade, tinha uma saúde de ferro. Daí que a sua súbita morte levante suspeitas que levam à descoberta de que foi, de facto, assassinado. Sendo filho de um comissário da Scotland Yard, e a pedido da noiva, Charles conhece finalmente a família da noiva que vive junta sob o tecto da casinha torta construída pelo patriarca, com o objectivo de a investigar. Cada um deles apresenta uma personalidade deveras peculiar, e qualquer um deles teve a oportunidade de cometer o crime. Pouco a pouco, os supostos motivos de cada um começam a vir à tona, mas o assassino é, sem sombra de dúvida, quem menos se espera.

Este livro tem as particularidades de não ter nenhum dos famosos detectivos criados por Agatha Christe, Hercule Poirot ou Miss Marple, e também de nenhuma das personagens ter um álibi. Considero que as personagens não são tão cativantes como outras que a escritora já me deu a conhecer, mas apesar disso a forma como a analisa o perfil psicológico de cada um, dando inclusive uma caracterização de "Como é um assassino" extremamente interessante, e as pequenas suspeitas verdadeiramente misteriosas que vai deixando ao longo das páginas, criam uma atmosfera de suspense muitíssimo agradável para os fãs do género. A identidade do assassino é das mais chocantes que já li nos seus livros, das mais surpreendentes, cruéis e macabras (dois adjectivos que a autora muito refere no decurso do livro). É também das mais controversas, tanto que os seus editores tentaram bastante que Agatha Christe a alterasse. Felizmente, a escritora manteve-se fiel a si própria e aos seus instintos.

 

Classificação: 

Livraria Chérie #3 - O Retrato de Dorian Gray

Há já algum tempo que ansiava por ler "O Retrato de Dorian Gray", do Oscar Wilde, no entanto a oportunidade nunca surgia. Foi então que, na feira do livro de Lisboa, no ano passado, o vi e pensei "Não, desta vez te mesmo que ser!". Comprei-o, mas como tinha outras leituras em atraso deixei-o um pouco de parte. Comecei a ler no final do verão, mas como o tempo livre não abunda apenas o terminei agora há dias. 

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Este foi inicialmente publicado na Lippincott's Monthly Magazine, uma revista britânica do século XIX. Posteriormente o autor, Oscar Wilde, reviu aquela que viria a ser a sua obra-prima, e publicou-a na edição que conhecemos actualmente. 

Por muitos classificado como um romance filosófico, "O Retrato de Dorian Gray" aborda o hedonismo, o narcisismo e o poder da influência dos outros em nós próprios, procurando sempre, e acima de tudo, criticar a decadente sociedade inglesa da época. 

O livro conta a história de um rapaz, Dorian Gray, de uma beleza extremamente rara e nunca antes vista, que acaba por se perder na sua própria beleza. Este torna-se modelo de um pintor conceituado - Basil Hallward, inspirando-o a pintar a sua obra prima - O Retrato de Dorian Gray. Por influência de Lorde Henry Wotton, seu amigo, Dorian fica obcecado com a sua beleza, lançando uma prece de que fosse o retrato a envelhecer e não ele. A dita prece é ouvida e com o passar dos anos, a idade faz-se notar no retrato, à medida que Dorian fica para sempre jovem. Porém, com o avançar das épocas, também a personalidade do protagonista é infuenciada, sofrendo mutações terríveis, com consequências ainda piores. 

Oscar Wilde, foi na sua época muito criticado, na medida em que muitos referem o livro como homoerótico e decadente, tendo mesmo sido obrigado a alterar certas partes. 

Pessoalmente já conhecia a história, no entanto surpreendeu-me pela positiva. Porém, quanto à escrita, por vezes torna-se complexa, exigindo uma atenção redobrada por parte do leitor. Por vezes, a descrição estética e cultural do panorama e contexto torna-se excessiva. No entanto, as personagens são ricas, permitindo ao leitor ler nas entrelinhas e compreender o que o autor realmente queria transmitir. 

 

Classificação: 7/10 

 

P.S - Existe também um filme - The Picture of Dorian Gray (2009), e a personagem é incluída na série Penny Dreadfull (2014)

Livraria Chérie #2 Capitães da Areia

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É no longínquo ano de 1937 que o talentoso escritor brasileiro Jorge Amado escreveCapitães da Areia"A obra foi na altura apreendida e queimada na praça pública, na medida em que alegadamente era "nociva para a sociedade". Anos mais tarde volta às livrarias e aguça o gosto de muitos leitores. 

Procura retratar a vida de um grupo de adolescentes e crianças abandonados, que viviam da alegria e da tristeza das ruas, dormindo num barracão abandonado a que chamavam Trapiche.

A acção reporta-se a São Salvador da Baía na década de 1930, revelando o clima festivo que se vivia na cidade mas também as lutas e divergências entre classes sociais.

As personagens principais têm nomes que captam desde logo a atenção do leitor: João Grande, Pirulito, Professor, Pedro Bala, Gato, Volta-Seca e Sem-Pernas. Estas são alegres, atrevidas e cheias de energia, ao mesmo tempo que se mostram carentes, maldosas e por vezes até agressivas e egoístas. É este misto que nos faz envolver e conectar com eles, é isso que nos faz ser também um Capitão da Areia, que dorme no Trapiche, e observa as estrelas antes de dormir. 

O livro encontra-se dividido engenhosamente em três partes, procurando demonstrar a evolução de carácter que as personagens têm ao longo da história e o desfecho dos seus sonhos e aspirações. 

Leva-nos a pensar como será viver na rua, conviver com pessoas tão diferentes de nós, mas ao mesmo tempo tão semelhantes. São abordados temas problemáticos na juventude como o alcoolismo, as relações sexuais, homossexualidade, religião, prostituição, entre outros. 

A escrita é clara e faz-nos sempre querer ler com sotaque, não sei, penso que torna a história mais real, talvez. 

 

Classificação:  

 

P.S - No futuro procurarei ler "Tieta do Agreste" e "Dona Flor e Seus Dois Maridos", do mesmo autor. Alguma chérie já leu? Opiniões?