Lisboa é minha.
Às vezes dou por mim a contemplar a azáfama das pessoas, os prédios de vários andares, as travessas, as ruas, as ruelas e as avenidas. Encontro uma magia neste simples acto de observação, que talvez muitos lisboetas não encontrem. Talvez devido ao hábito de convivência que têm com a cidade, talvez porque nunca a amaram ou simplesmente porque não conheceram outra realidade. É complicado dizer, havendo tantas explicações. O ser humano é uma criatura de hábitos mas há mudanças que lhe fazem muito bem, constroem o carácter e limam as arestas de uma personalidade já moldada.
Nunca pensei vir para Lisboa, foi uma coisa de última hora, bem, última hora há quatro anos atrás. Nunca me chamou a atenção a confusão que por vezes faz as pessoas serem rudes, nunca chamaram por mim as ruas inclinadas, as sete colinas, os prédios de vários andares, nem mesmo os edifícios emblemáticos. Mas as coisas mudam, a vida constrói-se, para ser sequencialmente destruída e depois construída novamente, sempre numa roda vida, sempre num ciclo vicioso. Desesperei, quis ir embora, voltar as costas a tudo! Envolvida numa espiral comecei a conhecer a cidade que não conhecia, a perder-me de amores por ela. A querer conhecer toda e qualquer avenida, toda e qualquer rua, cheirar os jardins, sentir a beleza dos miradouros, deixando que Lisboa me envolvesse a alma. Este amor pela cidade ganha-se na vivência, como um prémio por termos escolhido tão bonito poiso para definir como moradia.
Gosto do pôr do sol em Lisboa, tem uma cor diferente, gosto do clima ameno que me deixa vestir a minha roupa preferida, gosto das luzes da noite e dos edíficios dignos de histórias contadas. Gosto de me perder em Lisboa, sinto-me segura quando me perco, e adoro quando me encontro. É a cidade dos espetáculos, cidade teatral, cidada amada e cidade musical.
Tudo isto podia ser um hino a Lisboa, uma canção cheia de frases feitas ou um filme cheio de clichés, mas não, é apenas uma carta de amor, escrita por mim à maravilhosa cidade em que vivo.
É tudo aquilo que sempre quis, é a liberdade que me leva a viajar e a magia que me transporta no ar.
Lisboa compreende-me. Lisboa envolve-me. E eu adoro-a.