Livraria Chérie #10 O Espião Que Saiu do Frio
Terminei hoje a leitura de O Espião que Saiu do Frio, um livro de espionagem do escritor britânico John Le Carré, que foi publicado em 1963 sob o título The Spy Who Came in From the Cold, e que foi considerado pela revista Time como um dos 100 Melhores Livros de Sempre.
A acção decorre no pós-guerra, durante o período da Guerra Fria, em que o mundo da espionagem atingiu o seu apogeu, sendo que o nosso protagonista, Alec Leamas, faz parte deste mundo, e encontra-se num período de transição, tentando encontrar uma forma de deixar esta vida e regressar ao mundo civil - basicamente, sair do frio. Para isso é-lhe oferecida uma missão perigosa e bastante importante, a qual ele aceita e que ao longo das mais de 200 páginas deste livro, nós vamos acompanhar.
A principal característica deste livro é que desde o início que somos envolvidos no meio da acção e temos de tentar "encontrar o nosso lugar"; ou seja tentar perceber o que está a acontecer, onde e quando decorre a história, quem são os seus intervenientes e o que está realmente nas suas mentes. Acabamos por funcionar também nós, de certa forma, como espiões que assistem a uma história que não é a sua, e que tentam discernir pistas e pensamentos ocultos. Este factor funciona tanto como um factor positivo como negativo. Por um lado obriga-nos a mantermo-nos sempre atentos, a ler nas entrelinhas e a tentar compreender o que se está a passar, mas por outro lado torna-se muitas vezes difícil acompanhar o que está a acontecer e principalmente o porquê de estar a acontecer. Acaba por ser um pouco confuso, especialmente porque apesar da história ser conduzida de forma linear, a verdade é que por vezes parece não haver uma ligação entre os capítulos, especialmente no último terço do livro.
A escrita de John Le Carré é agradável, minuciosa e marcada principalmente por diálogos, o que é natural tendo em conta o tema, mas é também complexa no sentido de que é dada muita informação sobre a qual nós pouco ou nada sabemos.
Esperava um pouco mais deste livro, tendo em conta que já foi considerado o melhor romance policial, esperava que tivesse mais acção e adrenalina, que me deixasse mais "presa" e com vontade de ler sempre mais, mas não foi isso que aconteceu. Apesar disso, gostei porque é um livro bem construído e com uma boa reviravolta final, e além disso tem um protagonista extremamente interessante, com uma grande agilidade mental. Outros factores de que gostei foi ter ficado a saber um pouco mais sobre esta época, bem como as discussões filosóficas sobre o que está realmente em causa: o indivíduo versus o todo, a moralidade versus a razão.
Classificação:
Como curiosidade, sabiam que este livro já foi adaptado ao cinema em 1965 e que recebeu duas nomeações aos Óscares? Podem ver mais aqui.