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La Vie en Chérie

Para os apaixonados por moda, cinema, livros e por uma vida doce e divertida

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Livraria Chérie #20 - Crónica dos Bons Malandros

Mário Zambujal é um conhecido jornalista e comentador português, nascido em 1936 em Moura, no Alentejo. Apesar dos seus talentos no campo da escrita, foi apenas em 1980 que se estreou no mundo da literatura com Crónica dos Bons Malandros.

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Ao longo de nove capítulos conhecemos a quadrilha de Renato, O Pacífico, bem como aquele que promete ser o golpe mais audacioso da história dos assaltos. Na Lisboa do crime, soturna e misteriosa, cruzamo-nos com várias personagens, tendo cada uma direito a um capítulo, onde nos é explicada a sua história de vida e como se cruzaram no caminho de Renato, o líder da quadrilha protagonista. O referido grupo é composto por Pedro, O Justiceiro, Adelaide Magrinha, Flávio Doutor, Arnaldo Figurante, Silvino Bitoque e Marlene, a namorada de Renato. De uma forma ou de outra, todos se cruzaram no caminho do líder, fazendo com que este os considerasse indicados para integrarem o seu grupo.

Como consequência de um pedido vindo do estrangeiro, Renato e a sua quadrilha vêem-se envolvidos naquele que promete ser o assalto mais arriscado de sempre, mas também a porta de saída para uma vida melhor. A premissa é simples – roubar vinte e duas jóias de uma colecção do Museu Calouste Gulbenkian. No entanto, este crime tem tanto de brilhante como de perigoso e, como em todas as histórias, nem tudo o que parece é.

Neste livro o que cativa o leitor não é, de todo, a história ou as personagens, mas sim a análise que Mário Zambujal faz do que é ser malandro. Num tom cómico e divertido, acabamos por nos aperceber que ninguém entra no mundo da malandragem por desejo próprio, mas sim por arrasto ou escorregão, e acaba por se deixar ficar. É um livro pequeno, com menos de duzentas páginas, variando consoante a edição (eu li a edição que tem o prefácio de Gonçalo M. Tavares), que se lê num ritmo alucinante. Por muitos definido como a obra que consagrou Mário Zambujal, a mim deixou-me divertida sim, mas com sede, com vontade de conhecer mais sobre estes bons malandros, daí que a minha crítica o coloque apenas no suficiente. Na minha opinião é uma história muito engraçada, com imenso potencial, mas ainda assim, inaproveitada. Contudo, gostei da escrita de Zambujal e nesse aspecto aconselho vivamente, sobretudo se procuram algo divertido, claro, simples e objectivo.

 

Classificação: 

Livraria chérie #17 - O Intruso

O Intruso ou melhor, Intruder in the Dust, como foi apelidado no seu original, publicado pela primeira vez em 1948, é um romance de William Faulkner. 

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Faulkner ganhou o prémio nobel da literatura em 1949, sendo considerado um dos maiores escritores do século XX. 

Neste seu romance que, demonstra leves toques de policial, a acção centra-se numa cidade sulista dos Estados Unidos da América, no condado fictício de Yoknapatawpha. Logo na primeira página conhecemos Lucas Beauchamp, um homem negro, acusado de matar um homem branco, Vinson Gowrie, com um tiro nas costas. O protagonista nunca se define como inocente ou culpado, aceitando com dignidade a infelicidade do seu destino. Por outro lado, toda a sociedade, extremamente racista e preconceituosa, considera Lucas culpado e decide linchá-lo em plena praça pública após o enterro de Vinson. 

Paralelamente, é dada a conhecer a vida de Lucas e, como o facto de ele ser descendente de uma família importante, influenciou a sua personalidade, por muitos descrita como insolente.

Aparentemente o destino de Lucas está nas mãos de Chick Mallison, um jovem de 16 anos, que ele salvara tempos antes, após uma queda num lago gelado. Chick proveniente de uma família bastante abastada, sendo, inclusive, sobrinho do conceituado advogado Gavin Stevens, não consegue compreender qual a razão de Lucas não aceitar uma recompensa monetária por ter salvo a sua vida. Deste modo, o jovem vê Lucas como alguém auto-absorvido na sua honra e dignidade. 

Deste modo, quando Chick ouve que Lucas foi preso pela morte de Vinson, descarta imediatamente a hipótese de o acusado ser realmente culpado. É então que o tio de Chick, Gavin, é convocado por Lucas, para ser o seu advogado. No entanto, Lucas considera que o crime por que está a ser acusado é tremendamente absurdo e pouco faz para provar a sua inocência. Consequentemente e, por oposição a Chick, o seu tio, apesar de não ser um mau homem, assume (precipitadamente) que Lucas é culpado, tentando convencê-lo a declarar-se como tal e a pedir clemência.  

Lucas pede, então, a Chick que o ajude a limpar o seu nome. Para tal, o jovem tem que desenterrar o corpo de Vinson afim de provar que não foi a Colt 41 de Lucas que o assassinou. Assim, Chick Mallison, o seu amigo Aleck Sander e uma senhora de setenta anos, Miss Habersham, amiga da falecida mulher de Lucas, iniciam a sua demanda para desenterrar Vinson Gowrie e provar a inocência de Lucas Beauchamp.

A escrita de Faulkner é irrepreensível, porém, por vezes, complicada, uma vez que, este autor recorre à técnica do fluxo de consciência. Assim, toda a narrativa é contada através de um exame crítico e fidedigno da consciência de cada personagem, como se de um monólogo interior se tratasse.

Este romance é uma verdadeira crítica ao preconceito sulista e ao racismo da sociedade. No entanto, Chick, a personagem principal, é um misto dos dois lados da história - proveniente de uma família sulista numa sociedade preconceituosa, acaba por confiar num negro acusado de homícidio, chegando a comprometer a sua integridade para o defender. Chick é a personificação da esperança numa sociedade mais equalitária. 

Leiam. Não se vão arrepender. 

 

Classificação:

P.S - O livro foi adaptado ao cinema em 1949. 

Séries da minha vida #24 - Unbreakable Kimmy Schmidt

Na passada quinta feira vi uma série inteira. (Sim, eu sei que tenho alguma espécie de condição psicológica). Vá, a série também só tinha uma temporada. Sim, e essa temporada só tinha treze episódios de trinta minutos cada um. Não foi nada do outro mundo, foram sensivelmente seis horas e meia da minha vida (o que é isso para uma seriófila?).

Passando à frente o discurso da praxe, a série foi Unbreakable Kimmy Schmidt, a nova produção de Tina Fey, em colaboração com Robert Carlock.

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Devido ao enorme sucesso de 30 Rock, a produção anterior de Tina Fey, que também fazia parte do elenco, senti uma enorme vontade de ver esta nova série. Unbreakable Kimmy Schmidt conta a história de Kimberly Schmidt (Ellie Kemper), uma jovem que viveu quinze anos aprisionada por um auto-proclamado reverendo, que lhe disse que o mundo tinha acabado e que viviam na era pós-apocalíptica. Juntamente com Kimmy viviam mais três prisioneiras que, tal como ela, acreditavam que o mundo tinha acabado e que eram as últimas sobreviventes. No primeiro episódio assistimos à libertação das vítimas, sendo que ao longo dos treze episódios que compõe esta primeira temporada assistimos à sua adaptação ao mundo real. Presenciamos as aventuras de Kimmy, que arranja um colega de casa deveras singular – Titus Andromedon (Tituss Burgess) – e a patroa mais snob do mundo (Jane Krakowski).

A protagonista vê-se então obrigada a reaprender tudo acerca da realidade, entrando muitas vezes em situações constangedoras (mas deveras engraçadas).

Nova Imagem.jpgAo contrário de 30 Rock, Tina Fey apenas participa em dois episódios. Esta sua nova produção peca bastante no factor comédia, em comparação com 30 Rock, sendo a actriz Ellie Kemper responsável pela maior parte dos risos e gargalhadas. Outra actriz neste papel tornaria a série impossível de ver, no entanto assim permanece apenas no patamar do razoável.

O grande ponto forte, que me pôs a rir antes de cada episódio é o genérico, que partilho aqui convosco:

Classificação: 6/10

Séries da minha vida #23 - Community

Terminou este ano uma das séries de comédia que eu acompanhava – Community

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Composta por seis temporadas, com oitenta e oito episódios de vinte minutos cada, esta série americana foi primeiro transmitida pela NBC, passando depois para as mãos da Yahoo Screen na sexta e última temporada.

Esta série de televisão, centra-se, nas temporadas iniciais, na personagem de Jeff Winger (Joel McHale), um advogado que foi obrigado a voltar à universidade depois de se descobrir que o seu diploma era falso. Quanto à universidade, trata-se de Greendale Community College, uma escola com aulas singulares, alunos peculiares e um reitor muito, muito excêntico (Jim Rash).

Intuitivamente, Jeff conhece Britta Perry (Gillian Jacobs), uma rapariga com a qual ele almeja ter uma relação. Na nova lista de amigos de Jeff, segue-se Pierce Hawthorne (Chevy Chase), um idoso magnata que só quer ser cool e voltar a reviver a juventude. Quanto a Abed Nadir (Danny Puddi) é um estudante de cinema, que vive no seu próprio mundo e imagina que todas as vivências diárias são uma série de televisão. Os restantes membros são Shirley Bennet (Yvette Nicole Brown), uma mãe divorciada que tem algo a provar ao mundo, Troy Barnes (Donald Glover), o melhor amigo de Abed, que com ele partilha excêntricas aventuras e Annie Edison (Alison Brie), uma personagem que evolui e cresce bastante ao longo da série.

Este é o grupo inicial (que sofre modificações ao longo das temporadas) e a acção reporta às suas vivências diárias e aventuras na tão diferente Greendale. As personagens evoluem ao longo das temporadas, sendo a mais notória a de Alison Brie. Outra personagem por quem vale a pena ver esta série é a de Ken Jeong, que dá vida ao Señor Chang, um professor de espanhol muito incomum.

Numa opinião muito sincera, as três primeiras temporadas são deveras engraçadas, ainda que o nível de humor não esteja a par com as séries de comédia mais banais. Para ver Community é necessário uma mente disponível a este universo tão peculiar, quer em termos de humor, de linguagem e terminologia, como de personagens.

Não existe propriamente um curso de acção, no entanto, considero que as três temporadas mais recentes foram algo desconexas e um pouco desligadas do fio condutor. O produtor veio a público anunciar que esta sexta temporada foi mesmo a última, no entanto existe a possibilidade de fazer um filme. Esperemos para ver.

 

Classificação: 7/10

Livraria chérie #11 - Orgulho e Preconceito

Devo, antes de mais, confessar que li este livro totalmente desprovida de conhecimento face à sua narrativa. Nunca vi o filme, não conhecia a história, sabia apenas que se tratava de um romance, o que a início não se revelou um facto muito apelativo para mim. Este estilo literário não faz de todo as minhas delícias. No entanto, estaria para chegar o livro que mudaria essa minha vincada opinião – Orgulho e Preconceito.

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Escrito por Jane Austen e publicado pela primeira vez em 1813, este romance britânico procura dar a conhecer a história de Elizabeth Bennet e de toda o seu ambiente social e cultural. Temas como a educação, o casamento, a cultura, a moral, o orgulho e a classe social tornam-se recorrentes e representativos da aristocracia britânica do século XIX.

Nas primeiras páginas é-nos apresentada a família Bennet, sendo o patriarca um homem distante e com pouco poder económico. Por sua vez, a Srª. Bennet revela-se desde logo uma mulher superficial, tola e desinteressante, cujo objectivo e expoente máximo de felicidade é “ver todas as suas filhas bem casadas”. As referidas filhas são Jane (a mais velha), Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia (a mais nova), que vivem com os pais na cidade de Meryton, em Hertforshire.

No início desde romance, de modo a corresponder aos desejos da Srª. Bennet, chega à cidade um jovem cavalheiro que aluga uma propriedade (Netherfield). De seu nome Charles Bingley, é rapidamente cobiçado e bem recebido por toda a comunidade. Porém, Mr. Bingley não vem só, fazendo-se acompanhar pela sua irmã e um amigo – Mr. Fitzwilliam Darcy. Este último, de ar sorumbático e algo orgulhoso é desde logo desdenhado pela comunidade, pela qual o próprio acalenta o mesmo sentimento. Entretanto, Jane e Bingley começam a relacionar-se, no entanto, a felicidade não é duradoura, e por meio de artifícios maldosos de outros, acabam por se separar, acreditando que a paixão morreu.

Entre Elizabeth e Mr. Darcy surge igualmente uma relação, mas de despique, caracterizada pela indiferença dele e vivacidade dela, diferente de todas as outras do seu meio. Com a partida de Darcy, Elizabeth inicia uma relação de amizade com Mr. Wickham, um oficial que ajuda a alimentar as divergências entre Elizabeth e Darcy.

Não quero de todo estragar o prazer daqueles que tenham intenção de ler o livro, portanto, em matéria de sinopse acho que vou ficar por aqui. A história não requer muita perspicácia da parte do leitor, pois torna-se bastante previsível qual o seu desfecho, desde os capítulos mais iniciais. No entanto, apesar de o factor surpresa estar condicionado, a narrativa é excelente e acompanhada por uma escrita irrepreensível.  

Quanto às personagens estão fantásticamente criadas, evoluindo todas ao longo do livro, sendo que não existem personagens desnecessárias ao curso da história.

Numa sociedade não muito diferente da actual, valores como a educação, a cultura, a classe social, o matrimónio e os ideais são constantemente colocados em questão. Jane Austen, procura, em jeito de crítica, deixar o leitor inferir acerca do orgulho e do preconceito vivido nesta época. Será que estes sentimentos se extinguiram no tempo, ou continuarão afincados na sociedade contemporânea?

A minha classificação não atinge a cotação máxima, apenas pela questão do factor surpresa. Crucifiquem-me mas sou uma leitora que gosta de ser compreendida e aqui, apesar de ser uma excelente obra, o desfecho revela-se previsível mesmo que não nos seja permitido antever o rumo que a história vai tomar até lá.

 

Classificação:

 

Livraria chérie #8 - Morte no Nilo

Death on the Nile, ou Morte no Nilo, no título que recebeu por terras lusas, é um romance policial de Agatha Christie. Publicado em 1937, é uma das mais célebres narrativas das aventuras do detective Hercule Poirot.

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A linha histórica começa muito antes dos acontecimentos principais do livro, procurando situar o leitor, dando-lhe a conhecer as personagens e certos pormenores que futuramente serão importantes.

Encontramo-nos então em Inglaterra, e Linnet Ridgeway é uma mulher que dispõe de tudo na vida: carisma, beleza, dinheiro e estatuto social. O que Linnet não tem é amor, mas rapidamente se apodera do namorado da sua melhor amiga, Jacqueline de Bellefort – Simon Doyle. Para fúria de Jackie, Simon abandona-a, casando com Linnet e partindo de lua-de-mel para o Egipto.

Assim, é a bordo do barco que navega no Nilo que a maior parte da acção se desenrola. A bordo encontra-se o recém casal, mas também Jacqueline, que num acesso de desespero começa a perseguir os Doyle. Neste navio – Karnack – encontramos entre todas as outras personagens, o famoso detective Hercule Poirot, que se encontra a gozar férias. No entanto, este é obrigado a intervir quando é encontrado o corpo de Linnet, com um tiro na cabeça. Tudo aponta para Jacqueline... Mas será a solução assim tão óbvia? Seria ela a única com motivo para cometer um crime tão horrendo?

Tendo como cenério as paisagens quentes e exóticas do Egipto, todos parecem culpados, todos teriam um motivo, mas afinal de contas quem é o assassino? A este dilema, junta-se um velho amigo de Poirot, o Coronel Race, que se encontra também à procura de um homicida mundialmente procurado. Estarão ambos os casos relacionados, ou será apenas uma coincidência infeliz?

Mais uma vez Agatha Christie, com a sua escrita exímia, capta o leitor desde o primeiro momento, levando-o a elaborar as mais variadas teorias e conjecturas. Ao contrário da maioria dos livros da autora, aqui sabemos já de antemão quem será a infeliz vítima, porém, o assassinato demora algum tempo a ocorrer, o que deixa o leitor num clima de tumulto e desconfiança. Mas lembrem-se, a bordo do Karnack nada é óbvio, nada é coincidência, nada é o que parece e tudo se desvanece numa linha turva entre o possível e o impossível.

 

Teria Linnet a vida perfeita que parecia ter? Ou viveria numa paz podre, onde todos eram seus inimigos?

O crime terá sido cometido por impulso ou foi premeditado?

Quem será o assassino?

 

Hercule Poirot é o homem com resposta a estas questões. A estas e a muitas mais, pois toda a gente esconde um segredo e, 

Muitas vezes, o trabalho de detective passa por eliminar todos os falsos começos e começar de novo.

 

Classificação

Livraria Chérie #7 O Grande Gatsby

Depois de muitas idas e vindas, e de ter relido as  primeiras páginas de O Grande Gatsby uma vintena de vezes, sem que nunca tivesse passado daí, finalmente terminei a leitura daquele que é considerado um dos grandes clássicos da literatura do século XX. Foi publicado pela primeira vez em 1925, e foi escrito por F. Scott Fitzgerald, que dizia que "gostaria de ser um dos maiores escritores que já viveram!", e que tem neste livro aquela que é considerada  a sua obra-prima. 

A história de Jay Gatsby, o homem que viveu na ilusão de um sonho, é-nos contada na primeira pessoa por Nick Carraway, um jovem natural da região do Midwest, que se muda para Nova Iorque em 1922, e cuja casa que aluga o deixa lado a lado com a mansão de Gatsby, o misterioso milionário acerca de quem circulam inúmeros rumores, por parte daqueles que, todas as noites, se dirigem à sua moradia para mais uma das suas festas. É também nesta altura que Carraway reencontra a sua prima Daisy, entretanto casada com Tom Buchanan e que, por ironia do destino, se encontra irremediavelmente ligada a Gatsby. Esta teia de personagens e sentimentos levará a um desfecho impossível de abrandar, que alterará definitivamente a percepção que Carraway tem do mundo.

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Ao longo das páginas de Gatsby, embarcamos numa viagem até à idade do jazz, os loucos anos 20, nos quais se viveu uma grande prosperidade pós-guerra, e que ficou para sempre associada ao excesso, ao glamour e à decadência. Além destes temas, Fitzgerald foca-se na importância dos estratos sociais da época, na resistência à mudança e na luta por um sonho que no final se esfuma, quando está prestes a ser alcançado. 

Tendo visto o filme de 2013 que adaptou o livro, já conhecia o destino das personagens e as suas personalidades. Obviamente que ao ler o livro pude conhecê-las muito melhor, mas tal como o filme, também o livro me dividiu. Se por um lado, foram vários os momentos em que achei a escrita de Fitzgerald muitíssimo inspirada, também foram muitos os momentos em que me aborreci e tive de me obrigar a continuar a ler. Outra das minhas dificuldades com este livro foi, tal como já tinha acontecido no filme, a minha não-identificação com nenhum dos personagens. Não consegui estabelecer nenhuma relação de empatia com nenhum deles que me fizesse realmente interessar-me pelos seus futuros. Apesar de tudo, foi talvez com a personagem de Gatsby que consegui estabelecer alguma afinidade por me solidarizar com a sua procura por um futuro melhor e pela desgraça em que cai.

Cada uma das personagens funciona quase como uma personagem-tipo. Em comum, todas elas vivem num estado de permanente insatisfação e na constante procura de algo que lhes preencha as suas vidas que, recheadas de luxo, são apesar de tudo, vazias. De todas elas, Carraway é o personagem mais maduro, mas que durante a acção funciona mais como um espectador das vidas dos outros, deambulando ao sabor das suas decisões. Gatsby, por sua vez, é o homem que cria o futuro com que sonhou baseado "na concepção platónica que tem de si mesmo", e que vive na ingenuidade de que o passado se pode repetir, e de que o amor é superior às convenções sociais.

Descrito como um romance trágico, O Grande Gatsby funciona acima de tudo como o testemunho de uma sociedade rica, fútil e decadente, descrevendo-a ao pormenor através de situações quotidianas, e deixando à capacidade crítica do leitor a análise desta época e destas pessoas. Foi esta perspectiva que mais gostei de ler no livro, esta amargura com que o autor descreve a vida e o ser humano. Em última análise, gostei da leitura deste livro e da perspectiva que me ofereceu, mas ficou aquém das minhas expectativas.

 

"(...) o sonho deve ter-lhe parecido tão próximo que só dificilmente poderia escapar ao seu abraço.

Não sabia que o sonho era já uma coisa do passado (...)"

 

Classificação: 

Livraria Chérie #6 – O Fantasma da Ópera

Foi ontem que (finalmente) terminei o livro que estava a ler – O Fantasma da Ópera – no frânces original Le Phantôme de l’Opéra. Esta obra de Gaston Leroux foi publicada pela primeira vez em 1909, sendo inspirado em factos históricos da Ópera de Paris.

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Leroux começa a narrativa com a frase “O fantasma da ópera existiu (...) Sim, existiu de carne e osso (...)”, o que cativa logo o leitor em primeira instância. A acção passa-se no século XIX, na Ópera de Paris (como o próprio título indica), que se encontra assombrada por um Fantasma, segundo as historietas dos empregados. Este vive de partidas que prega constantemente, e obtém o seu rendimento mensal da chantagem que efectua aos administradores da Ópera, que lhe pagam 20 mil francos mensais. A personagem terrível exige ainda que lhe reservem o camarote nº5 em todas as actuações.

Entretanto Christine Daaé, uma jovem bailarina, é guiada por um Anjo da Música, enviado do céu pelo seu falecido pai. Esta criatura mostra-lhe o poder da sua voz e todo o sucesso que pode alcançar com ela. Christine acaba por subir aos palcos como cantora, arrebatando e conquistando a audiência, onde se encontrava o seu amor de infância – o visconde Raoul de Chagny.

Mais tarde, Christine compreende que o Anjo não existe, e que este é sim personificado pelo Fantasma, o índividuo que aterroriza a Ópera. Erik, o Fantasma, encontra-se deformado na face, razão essa por que se esconde do mundo desde sempre. Quando Christine descobre a fealdade da criatura entra em choque e Erik decide prendê-la nos subterrâneos do monumental edifício. Christine vê-se então obrigada a escolher entre o amor de uma vida ao lado de Raoul de Chagny ou a protecção do mesmo. Esta promete então que voltará sempre para Erik por vontade própria. Mas o amor que sente por Raoul é mais forte e os dois planeiam fugir. No entanto, Erik apercebe-se do plano e na noite idealizada para a fuga, rapta Christine e leva-a para a sua morada nos confins da Ópera.

Raoul e o Persa (personagem que conhece tudo acerca de Erik) partem numa busca para salvar Christine, sobrevivendo às mais terríveis armadilhas e obstáculos. Entretanto, Daaé vê-se obrigada a casar com Erik ou morrer juntamente com “mais dos da raça humana”.

A escolha é óbvia, Christine escolhe casar com Erik. Porém, num rasgo de bondade este permite-lhe que fique para sempre com Raoul, desde que no momento da sua morte lhe venha colocar a aliança de ouro que lhe havia dado, no dedo. Christine concorda, e tanto ela como Raoul nunca mais são vistos. Porém, anos mais tarde é encontrado um esqueleto nos fundos da Ópera, com uma aliança dourada. Christine havia cumprido a sua promessa...

Esta obra-prima de Gaston Leroux é considerada de género gótico, romance, horror, ficção, mistério e tragédia. O horror deriva de todas as malvadezas que circulam na cabeça de Erik, e que este conduz à execução.

Não seria apenas uma alma incompreendida? Não teremos todos nós um pouco de Erik? No fundo o que mais almejamos na vida é ser amados por alguém, pois o amor que nutrem por nós não tem preço.

Recomendo vivamente a todos os que querem ler os grandes gigantes da literatura, pois esta obra deixa-nos a pensar no que seríamos capazes de fazer por amor, e talvez até a identificarmo-nos com Erik, que é supostamente o vilão que não nos deixa indiferentes.

Hoje em dia a história é mais que conhecida, e talvez um pouco ofuscada pelos musicais (é o mais visto de sempre!), filmes e todas as produções realizadas em torno da obra. Porém, eu acho que merece a classificação de:

 

Classificação: 8/10

Livraria Chérie #5 - Cem Anos de Solidão

Terminei hoje o livro Cem Anos de Solidão, e confesso-vos que apesar de já saber a frase final há muitos anos, isso não impediu que as lágrimas se apoderassem dos meus olhos. Sem dúvida alguma o melhor livro que li até ao momento, pois apesar de ser concebido em torno de todo um realismo mágico, consegue aprisionar o leitor.

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Gabriel García Marquez, escritor colombiano dotado de uma destreza literária enorme, ganhou o nobel em 1982. Com este Cem Anos de Solidão, garante a posição nº33 dos 100 livros do século segundo o Le Monde. Este tão aclamado romance, denominado Cien Años de Soledad na língua materna em que foi redigido, reporta, como já referi, ao estilo do realismo mágico. Leva-nos a deambular por Riohacha e Macondo, locais fictícios e místicos, perdidos e encontrados nas Caraíbas, onde encontramos a família Buendía, uma família incestuosa, que nasce da relação de José Arcadio com a sua prima Úrsula. O casal tem três filhos, José Arcadio, extrovertido e trabalhador, Aureliano, calmo e solitário e Amaranta. No decorrer da história são contadas ao leitor as vivências de cada uma das personagens, assim como a sua evolução ao longo da narrativa.  Acompanhando sete gerações Buendía, deparamo-nos com milagres, fantasias, obsessões, incestos, tragédias, adultérios, rebeldias, descobertas e condenações, que em simultâneo representam o mito e a veracidade que se faz viver em todo o mundo. Filhos, netos, bisnetos, trinetos, tetranetos, são apresentados, assim como personagens exteriores à família, indispensáveis ao decurso da narrativa.

Repleto de características e especificidades que o tornam único, este romance tem a particularidade de contar com uma personagem centenária que acompanha todas as gerações, dando conta das características e mentalidades de todos os descendentes. A par com isto, como se o nome determinasse a natureza da pessoa, todos os herdeiros com o nome José Arcadio têm a vida marcada por impulsos, trabalho árduo e vida boémia. Por outro lado, todos os Aurelianos são justos, pensativos e melancólicos. Estes últimos, adquirem uma missão, ao longo da história, e que no fundo é o fio condutor de todas as peripécias: desvendar os pergaminhos escritos pelo nómada Melquíades, amigo da família. No entanto, prediz-se que estes contam a história da família Buendía, desde o primeiro membro, ao último, e apenas poderão ser decifrados quando tiverem decorrido cem anos e o derradeiro descendente estiver às portas da morte.  

Sem dúvida genial, bem escrito e que me deixa com vontade de recomeçar a ler, só para voltar a viver com os Buendía outra vez. O único conselho que posso transmitir é que adquiram uma edição com árvore genealógica ou então que imprimam uma da internet, porque as personagens têm nomes similares e confesso que me perdi algumas vezes e tive que recorrer a esse instrumento.

 

"(...) porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra."