Trago hoje um tema algo pragmático e que atormenta a minha mente. O que aconteceu na sociedade que fez as mães e os pais darem apenas um nome aos seus rebentos?
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Onde está todo aquele misticismo associado ao facto de chamar uma criança usando o seu nome composto, quando esta faz algo de errado? No tempo em que eu era um pequeno ser humano, lembro-me de que havia claramente algo de errado quando a minha mãe usava o meu segundo nome. Geralmente queria dizer que tinha escrito na mesa ou na parede, enfim, o que posso dizer, aprender a escrever o meu nome foi algo que me fascinou, mas pronto, passando isso à frente...
Antigamente os papás, babados com o novo bebé, impunham-lhe logo um nome, que havia sido pensado e reflectido durante meses... Mas não podia ser um nome qualquer, era um nome composto, um nome com dois nomes, que permitisse a um pai chateado chamar a criança num estilo "Carlos Alexandre! Pára já com isso!", o que surtia efeito logo de imediato. Digam-me que não há algo de fantástico e absolutamente hilariante acerca deste tipo de premissas!
Havia mais num segundo nome do que o poder que este tinha sob uma criança. Era também uma oportunidade de criar uma alcunha, uma que não trouxesse vergonha e humilhação ao petiz, por exemplo António Pedro, aka Tópê, e não "caixa de óculos" ou "come macacos". No fundo, actuava como uma armadura, um escudo protector do miúdo, o que se calhar explica porque antes não havia tantos casos de bullying. É uma questão de se fazer um estudo sobre o assunto.
No entanto, os nome compostos perderam-se no tempo, houve uma fase em que as crianças da humanidade apenas tinham direito a um nome, sendo designadas de "secas", pelas outras crianças cujos pais ainda acreditavam no poder do segundo nome. Foi triste... Mas o pior foi depois, quando os pais descobriram o carácter cíclico dos nomes e começaram a dar às crianças os nomes por que eram conhecidos os avós dos seus avós.
Foi aí que começou a saga das Franciscas, das Leonores, dos Antónios, dos Joaquins, and so on. Não ficaram por aqui, trouxeram de novo a moda dos nomes compostos, só que desta vez, numa onda mais pretensiosa, que englobava apenas nomes como Maria Leonor, António Maria, Maria do Carmo. Foi assim que o segundo nome perdeu todo o poder que teve em tempos e deixou de ser a bolha que envolvia a criança, num misto de protecção e iminência de sarilhos.
Confesso que me perturba, mas e se o segundo nome, aquele que a maioria de nós odiava, funcionava como um escudo protector? Que nos mantinha longe dos insultos dos miúdos mais velhos. Ou se funcionava como um detector de sarilhos, inventado para que sempre que fosse pronunciado, a criança percebesse que estava em apuros? Será por isso que os rebentos de hoje tendem a ser menos respeitadores?
Deveríamos trazer de volta os nomes de antigamente?
Mães que procuram ansiosamente um nome que sirva à vossa criança, mas acima de tudo lhe traga segurança, nada temam! Voltem atrás no tempo e optem por um António Francisco (é capaz de não ser muito bom, Tóchico...) ou uma Vanessa Cristina (hmmmm, also not good idea, podia tornar-se na próxima estrela do mundo pimba). Bom, acho que já compreenderam a ideia, eu hoje não estou muito criativa.
E vocês? Têm um segundo nome? Qual a vossa opinião?