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La Vie en Chérie

Para os apaixonados por moda, cinema, livros e por uma vida doce e divertida

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Quero Tanto Ver #20 The Light Between Oceans

O trailer deste filme já não é de agora, mas sinceramente eu esqueci-me de partilhar convosco este filme que tanto quero ver. Ainda antes de conhecer a história, já eu estava interessada neste filme devido ao elenco. Vejamos, temos Michael Fassbender, Alicia Vikander e ainda Rachel Weisz. Depois, este foi o filme que reuniu Fassbender e Vikander e os tornou um casal na vida real. E a minha terceira razão: este trailer. A história é muito interessante, há muita emoção, grandes dilemas, e por esta pequena amostra já se vê que os actores, mais uma vez, não desiludem. Também dá para ver que está muito bem filmado e que tem uma bela fotografia. 

Já vos convenci a dar-lhe uma hipótese?

 

Chérie, hoje apetecia-me ver... The Martian

Como é que um filme sobre um homem que é dado como morto, abandonado no planeta Marte, pode ser leve, bem humorado e até divertido? The Martian é a prova de que até a velha fórmula do homem só num ambiente inóspito, pode ser aligeirada e proporcionar um filme com algumas gargalhadas. 

Perdido em Marte estreou em 2015, e é um filme do realizador Ridley Scott, sendo baseado num livro de 2011 escrito por Andy Weir. Reúne um enorme elenco de estrelas encabeçado por Matt Damon: Jessica Chastain, Jeff Daniels, Kristen Wiig, Chiwetel Ejiofor, Kate Mara, Sean Bean, entre outros. Está nomeado a 7 Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Actor. Confesso que aquando da sua estreia não captou a minha atenção, talvez porque nos últimos anos têm estreado vários filmes passados no espaço, temática que é não das minhas favoritas. 

The Martian Poster.jpg

 (Sei que este não foi o poster mais usado na divulgação do filme,

mas este é bem mais interessante do que daqueles com o Matt Damon - nada contra ele -

mas não eram muito originais.)

 

Matt Damon é Mark Watney, um dos astronautas que se encontram a desenvolver uma missão em Marte. Depois de um acidente, este é dado como morto pelos seus colegas, os quais se vêem obrigados a abandonar o planeta, caso contrário poriam em risco a sua própria sobrevivência. Contudo, o impossível acontece e Mark sobrevive. Sozinho, a milhões de quilómetros da Terra, no ambiente mais inóspito possível e com poucos recursos, Mark decide contrariar todas as probabilidades, e tentar sobreviver durante o maior tempo possível, de modo a que haja uma ínfima possibilidade de regressar a casa. Por outro lado, quando a NASA se apercebe do erro cometido decide envidar todos os seus esforços em concretizar um plano que consiga trazer Watney de volta ao seu planeta, são e salvo.

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A premissa deste filme não é de todo original, mas The Martian consegue de facto ser diferente, muito devido ao seu protagonista inteligente, "desenrascado" e com um grande sentido de humor, que facilmente nos conquista. De facto, a capacidade que o Watney tem de, na sua posição miserável de homem condenado à morte, conseguir manter o seu bom-humor e divertir-se a si próprio foi um dos factores que mais me fez gostar do filme. É também este inesperado tom ligeiro que o filme apresenta em certos momentos, que explica a sua nomeação (e vitória) como Melhor Filme de Comédia nos Golden Globes, muito embora este seja na realidade um filme dramático de ficção científica.  

De realçar, obviamente, a parte técnica do filme. The Martian é um grande filme do ponto de vista de visual, sendo que menos não seria de esperar num filme com este tema. Existem numerosos planos das paisagens desérticas do planeta vermelho, que nos transportam para esta realidade longínqua, e o detalhe do ambiente espacial que rodeia Watney é minucioso. Ridley Scott, realizador de Alien ou Gladiator, assina aqui um filme muito bem construído, que apela a todos nós, mas no qual notei que a combinação do tom dramático com o cómico nem sempre resultou bem no ritmo da história. Penso também não havia necessidade de o filme se arrastar além das duas horas, pois o segundo terço do filme foi um pouco mais aborrecido. Matt Damon tem aqui uma boa prestação, sendo suportado por um elenco sobejamente conhecido e também ele muito competente, mas não sei se de facto a sua nomeação como Melhor Actor seria justificada. Finalmente, o desfecho e resolução dos momentos finais são os esperados num filme deste género, não sendo surpreendentes, mas ainda assim bastante emocionantes.

 

Classificação: 7/10

 

P.S. Não resisto a comentar que, ao contrário do protagonista, eu gosto bastante do disco dos anos 70, pelo que além do filme ter uma boa banda sonora original, foi maravilhoso ouvir alguns dos êxitos da época.

Séries da minha vida #36 Downton Abbey

No Natal passado foi emitido o último episódio de uma das séries mais aclamadas e marcantes dos últimos anos: Downton Abbey, a série britânica que conquistou espectadores de todo o mundo, e que se tornou num fenómeno da televisão inglesa, como há muito já não era visto.

Estreou em 2010, e desde então foram 6 as temporadas transmitidas, totalizando 52 episódios em que os espectadores puderam acompanhar as vivências da aristocrática família Crawley, bem como as dos seus fiéis empregados. Ao longo dos anos que a série abrange, iniciando-se em 1912, e terminando em 1925, podemos também acompanhar os grandes eventos da época e assistir às drásticas mudanças que se vivem, e que conduzirão a grandes alterações à medida que a série vai decorrendo.

  

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Chérie, hoje apetecia-me ver... 45 Years

Estreado em Portugal no último dia de 2015, este filme britânico tem recebido aclamação nos festivais de cinema europeus, mas tem passado relativamente despercebido nos grandes prémios americanos. Apesar disso, ainda há quem tenha esperança (eu incluída) de que consiga arrecadar uma nomeação ao Óscar de Melhor Actriz para Charlotte Rampling.

45 Years ou 45 Anos foi realizado e escrito por Andrew Haigh, e conta a história de um casal que se encontra a poucos dias de comemorar 45 anos de casados. Kate (Charlotte Rampling) e Geoff Mercer (Tom Courtenay) dão vida a este casal, cuja rotina estável de cumplicidade e harmonia se encontra prestes a ruir, quando Geoff recebe uma carta provinda da Suíça. A notícia que lhe é dada corrói pouco a pouco a confiança que Kate depositava no marido, e ameaça abalar os alicerces de uma relação tão longa.

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Apesar de o filme ser sobre o casal, a verdadeira protagonista é Kate, a primeira e última personagem a surgir no ecrã. Uma mulher de bem com a vida e com as opções que tomou, e que tem em Geoff um parceiro, um amigo e a sua cara-metade. A notícia que lhe é dada parecia, a princípio, ser de pouca importância, mas desde esse primeiro instante, que Kate fica sobressaltada e começa a "jogar à defesa", procurando observar as atitudes do marido. Infelizmente, as suas suspeitas tornam-se reais, e Kate vê-se obrigada a questionar toda a sua vida conjugal até àquele momento, apercebendo-se que, mesmo depois de 45 anos, não sabe nada sobre o seu marido.  Isto porque essa notícia vem acordar uma parte de Geoff que estava adormecida, e que Kate desconhecia por completo. 

Por sua vez, esta notícia vem dar a Geoff um novo entusiasmo, levando-o a recordar o seu passado, e tudo o que este envolvia. Não sendo tão complexo como Kate, nem sendo a sua história tão desenvolvida, é possível perceber que Geoff viveu 45 anos sem ser completamente ele próprio, nunca estando a 100% na relação que construía com Kate, mas fazendo-a pensar que assim. Apesar de o seu comportamento poder ser visto como egoísta ou manipulador, existem diversos factores atenuantes que nos levam a questionar se não teríamos feito o mesmo que ele.

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Este é um dos factores que mais me cativaram neste filme, o facto de serem pessoas reais com as quais é fácil identificarmo-nos, com muitas áreas cinzentas, e diferentes interpretações das suas acções, conforme o estado de espírito e o histórico do espectador. Claro está que, no final, cada um terá tomado partido ou de Kate ou de Geoff, facto de que me apercebi apenas quando li comentários ao filme com outras perspectivas que não a minha, e que me levaram a avaliar uma vez mais o filme. Este é de facto um daqueles filmes que dá que pensar.

Charlotte Rampling é magistral na sua interpretação. Com uma enorme subtilidade tem uma actuação poderosíssima e em muitos momentos dilacerante. Aliás, subtilidade é a palavra-chave de todo o filme. Voltando a Rampling, a sua representação é sempre comedida, o que faz de Kate uma mulher muito mais interessante, mas a sua discrição não nos impede de perceber o que está a sentir. E é isto que torna a interpretação de Charlotte Rampling perfeita: esta capacidade de representar só com o olhar, de dizer tudo, sem fazer nada.

Como já devem ter percebido, gostei imenso deste filme. A sua história não será a mais original, mas é muito bem contada. Ao contrário do que possam pensar, a notícia que rapidamente se torna no foco do filme não é de todo um cliché, nem a forma como os personagens reagem a ela. E tem um fim de cortar o coração.

 

Classificação: 8/10 

Chérie, hoje apetecia-me ver... Mr. Holmes

Sherlock Holmes é, muito provavelmente, o mais famoso detective da história. Criado por Sir Arthur Conan Doyle, surgiu em 1887 em A Study in Scarlet. Desde então tem vindo a conquistar múltiplas e distintas gerações, que partilham o fascínio pela mente brilhante e particular de Sherlock Holmes. Muitas já foram as adaptações feitas ao trabalho de Conan Doyle, e eis que este ano estreou mais uma, Mr. Holmes.

Este filme despertou imeditamente o meu interesse, não só pela premissa, mas também pelo actor que iria dar vida a Holmes. Assim, aqui há uns meses partilhei convosco a minha expectativa em ver este filme, um drama realizado por Bill Condon e protagonizado por Ian McKellen. A história é baseada num livro publicado há dez anos atrás, A Slight Trick of the Mind, escrito por Mitch Cullin.

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Nesta adaptação, Sherlock Holmes é um homem envelhecido, com mais de 90 anos, e que está aposentado há cerca de 30, refugiando-se numa zona remota de Inglaterra. Aí vive também a sua governanta (Laura Linney), e o filho desta, Roger (Milo Parker). Holmes vive atormentado pela sua progressiva perda de faculdades: a sua outrora mente brilhante está a desvanecer-se, uma memória de cada vez. Apesar disso, ele está decidido a esclarecer o que aconteceu no seu último caso e, por conseguinte, qual foi a razão que o levou a reformar-se. 

A história é contada em três linhas temporais e espaciais: a principal é a que acabei de resumir. As outras duas confluem para essa, e constituem memórias do protagonista. Uma na época do seu último caso, em Londres, e a segunda compreendida entre as outras duas, que decorre no Japão.

Antes de mais, deixem que vos diga que a ideia que tinha antes do filme, criada pelo trailer e sinopses da história que li, não se revelou muito próxima à realidade. Pensava encontrar um típico biopic, leve e com uma história linear, em que o protagonista é modificado pela sua interacção com o jovem Roger. E a verdade é que Mr. Holmes é um filme muito mais profundo do que parece ser quando vemos o trailer. 

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Começando pela análise técnica, Mr. Holmes é um filme irrepreensível. A realização está deveras bem feita, relacionando as três histórias pouco a pouco, e centrando-as sempre em Sherlock.

A caracterização das outras personagens é bem feita, especialmente as de Roger e da mãe, que são as figuras mais próximas do protagonista. Não sou grande fã da Laura Linney, mas aqui até consegui simpatizar com a sua personagem, apesar de não ser fácil. Milo Parker, que interpreta Roger, prova que tem pela frente uma grande carreira como actor. Carismático, cativante e com imenso talento, consegue até roubar alguns momentos a Ian McKellen. Relativamente a este senhor, o que há a dizer que não tenha já sido dito em todos os trabalhos que fez? É uma vez mais brilhante, recriando Holmes de uma forma inigualável, e de certa forma dando vida a dois Sherlocks, separados por 30 anos, com características muito diferentes. Apesar disso, não acho que vá ser nomeado ao Óscar, com muita pena minha, porque era mais do que merecido.

Um dos factores que mais me atraiu neste filme foi a fotografia, pela forma como o realizador abordava os planos das personagens, encaixando-as entre diferentes elementos, e como conseguiu relacionar a beleza da Natureza e da metrópole. Também a banda sonora é um aspecto bastante presente, realçando a dualidade da simplicidade e complexidade do filme.

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Contudo, acho por bem avisar que não esperem encontrar aqui um trabalho muito semelhante às obras sherlockianas mais recentes. O ritmo do filme é deveras lento, sem grandes aventuras ou correrias, e com um Sherlock muito diferente daquele a que estamos habituados. Pessoalmente, eu adorei esta visão do detective, e da sua divisão entre a racionalidade versus emoção. 

O filme retrata a procura de Sherlock por algo que nem ele próprio sabe o que é: o que o levou a desistir da sua carreira. Essa procura incessante pelo seu passado leva-o a algo inédito: escrever o seu último caso, algo que nunca tinha feito, pois foi sempre Watson o responsável por contar as suas aventuras. Pouco a pouco, Holmes lembra-se desses dias, e é com essa memória que faz uma descoberta acerca de si próprio e do ser humano, e que mudará drasticamente a sua maneira de ser. Ao contrário do que esperava, o filme não se centra na resolução do caso, uma vez que Sherlock já a fez há três décadas atrás, sendo que a mesma não era particularmente misteriosa. O foco é mesmo a transformação levada a cabo em Sherlock, primeiro há 30 anos atrás quando resolveu o caso, e depois desse tempo todo, enquanto tenta descobrir o que o mudou. É um filme com muitas nuances, e uma interessante analogia com a Natureza, que me impressionou imenso. 

Muito mais haveria a dizer acerca de Mr.Holmes, mas fico-me por aqui, com a recomendação de que não percam a oportunidade de o ver. A sua componente técnica cria uma magnífica "moldura", e a sua história dá vida ao "quadro" em si. Conjugadas, dão-nos um excelente filme.

 

Classificação: 9/10

Chérie, hoje apetecia-me ver... The Perks of Being a Wallflower

Hoje venho falar-vos de um filme que vi recentemente chamado The Perks of Being a Wallflower, ou em português As Vantagens de ser Invisível. Estreou em 2012, sendo baseado num livro de 1999 com o mesmo nome. Uma das particularidades deste filme reside no facto de ter sido o autor do livro, Stephen Chbosky, quem escreveu o argumento e realizou o filme, o que é algo bastante raro, mas também interessante, pois pelo menos temos a certeza de que a vidão do autor do livro está efectivamente contida no filme.

Para que conste, eu não li o livro, mas na altura em que estreou, o filme chamou-me a atenção pelas críticas associadas e pelos actores principais. Entretanto, a oportunidade de o ver não se proporcionou e ficou adiado até agora.

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O protagonista desta história é Charlie Kelmeckis (Logan Lerman), um jovem prestes a iniciar o seu primeiro ano na escola secundária, e que teve um Verão difícil, sendo-nos pouco a pouco revelado que Charlie é atormentado com problemas psicológicos e memórias difíceis que tenta a todo o custo reprimir. O facto de não se conseguir integrar na nova escola não ajuda, até que dois alunos diferentes lhe chamam a atenção: Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller). Pouco a pouco, Charlie começa a fazer parte do grupo destes dois finalistas, sentindo-se finalmente aceite. Mas existem alguns segredos prestes a vir à tona, e que farão Charlie repensar toda a sua vida...

 

The Perks of Being a Wallflower.jpg

Gostei bastante deste filme, que consegue combinar um tom maioritariamente dramático com alguns momentos bem leves, e até de comédia, personificados na sua maioria no personagem de Patrick. Sempre que Ezra Miller entra em cena é impossível tirar os olhos dele, quase ofuscando Logan Lerman. Estes dois personagens são particularmente interessantes, com personalidades excêntricas e quase opostas: um é expansivo e gosta de ser o centro das atenções, enquanto que o outro passa facilmente despercebido e é mais "apagado". Mas tanto um como o outro são muito mais do que aparentam. No trio principal é Sam quem está menos bem desenvolvida, embora ache que tenha mais a ver com o texto do que com a interpretação de Emma Watson. Além destes actores, podemos encontrar no filme outros nomes conhecidos como Paul Rudd e Kate Walsh (cuja personagem só serve para compor, um desperdício).

A história não é contada linearmente, o que é um ponto a favor, tendo em conta que a construção foi bem feita, mas não é assim tão original como faziam crer. Assenta na típica base comum a todos os filmes de adolescentes, mas tenta inovar pelas filosofias defendidas e pelas características que atribui aos seus protagonistas. Penso que em geral até consegue, mas acho que por vezes o filme tenta aparentar ser mais do que é, leva-se demasiado a sério. 

Em suma, trata-se de um bom filme para entreter ao longo de pouco mais de uma hora e meia, com uma visão interessante da realidade adolescente e que tem uma excelente banda sonora (foi sem dúvida o meu ponto favorito do filme).

 

Classificação: 7/10

Séries da minha vida #29 Masters of Sex

Estreada em 2013 no canal Showtime, a série Masters of Sex é baseada num livro com o mesmo nome, e retrata o trabalho pioneiro acerca da sexualidade humana realizado pelos investigadores William "Bill" Masters e Virginia Johnson. A terceira temporada terminou recentemente, sendo que esta série já se encontra renovada para uma quarta temporada. Até agora existem 36 episódios disponíveis, de cerca de uma hora, distribuídos igualmente por cada temporada.

Acompanho esta série desde o ano de estreia, sendo que me chamou imediatamente à atenção por diversos factores. Em primeiro lugar, sempre gostei de séries de época, assim como séries relacionadas com a saúde e com a medicina. Aliar estas duas vertentes tornou-se logo apelativo. Depois os actores: Michael Sheen (William Masters) é um actor consagrado na televisão e cinema, e Lizzy Caplan (Virginia Johnson) é uma actriz que já tinha acompanhado em várias comédias e com quem simpatizei. Finalmente, o tema: o sexo ainda continua a ser um tema polémico e tabu, mas a verdade é que hoje já temos bastante conhecimento acerca da sua fisiologia e psicologia. Ora, como é que todo este conhecimento surgiu? Quem foram "os descobridores" que desafiaram convenções e preconceitos acerca deste tema? A resposta, meus caros, é Masters & Johnson.

 

Masters of Sex Poster.jpg

 

A acção decorre durante os anos 50 e 60, e inicia-se quando o estudo sobre a sexualidade humana não passava de um esboço na cabeça de Bill Masters, médico ginecologista e obstetra de renome. Ambicioso e com uma enorme fome de saber, Bill procura ser o pioneiro numa área da qual mal se ouvia falar, mas afiguram-se-lhe diversas dificuldades, tendo em conta o tema. Mais tarde, surge em cena Virginia Johnson, uma mulher divorciada e mãe de dois filhos, que encara o sexo com naturalidade, e que vê no possível estudo de Bill uma forma de adquirir conhecimento, e de trilhar o seu próprio caminho, reafirmando-se como mulher independente. Os dois complementam-se, pois enquanto que Bill tem o conhecimento científico, falta-lhe a capacidade de se relacionar com os outros, demonstrando diversas dificuldades em lidar quer com os seus colegas e superiores, quer com as suas cobaias. Já Virginia é precisamente o oposto: impedida de estudar por ter engravidado, ficou com a curiosidade de saber mais, mas é uma pessoa extremamente empática, e que tem facilidade em relacionar-se com os outros, além de ser mais despachada e activa do que Masters. Assim, os dois iniciam uma colaboração que, na vida real, viria a durar várias décadas, contribuindo para várias descobertas e para desmentir vários mitos.

 

Masters of Sex - Bill e Virginia.JPG

 

O sexo é o tema central de Masters of Sex, não só pela investigação que é feita acerca deste assunto, mas também porque esta série aborda muito mais do que a investigação feita por Masters e Johnson, focando-se também nas suas vidas pessoais, e nas dos muitos personagens secundários que povoam a série. As cenas de sexo são tratadas naturalmente, por vezes com erotismo, por vezes com humor ou embaraço, mas sempre sem pudor. Tendo em conta o tema, seria fácil para uma série como esta cair no ordinário, ou na nudez excessiva e gratuita, mas Masters of Sex nunca comete esse erro. Mais do que o sexo em si, também temas que lhe estão associados como a impotência, a frigidez, os abusos sexuais, o assédio, a homossexualidade, a bigamia, a infidelidade, a infertilidade, e outras disfunções sexuais são abordados nesta série que, à semelhança dos seus personagens principais, é também ela bastante inovadora.

Bill e Virginia são duas personagens extremamente complexas, que a série vai desenvolvendo pouco a pouco, e que são impecavelmente interpretados por Sheen e Caplan. É fácil relacionarmo-nos com Virginia e com as suas decisões e emoções, mas Bill é o verdadeiro quebra-cabeças da série, cheio de contradições, com tantos defeitos como qualidades, e que mantém sempre uma postura de distanciamento face a tudo e todos. O triângulo principal da série é fechado com a mulher de Masters, Libby (Caitlin FitzGerald), uma personagem insegura, mas que é, aparentemente a mulher perfeita. São vários os personagens secundários dignos de menção, mas existem dois que acho que são particularmente importantes, embora nem sempre bem desenvolvidos: Barton Scully (Beau Bridges) e a mulher Margaret (Allison Janney).

 

Masters of Sex Personagens.JPG

 

Na minha opinião, a primeira temporada é até agora a melhor da série, sendo que a segunda está quase ao mesmo nível, embora os temas retratados não sejam sempre tão interessantes como na primeira. Já esta terceira temporada deixou muito a desejar face à qualidade das duas anteriores. Penso que o grande problema foi falta de organização da parte dos argumentistas e produtores, que não souberam como articular os eventos seguintes das vidas destes personagens, o que conduziu a episódios confusos, e algo desligados uns dos outros, em que as histórias foram mais fraquinhas, e em que houve personagens a deambular por ali em que nenhuma história de jeito lhes fosse atribuída (este problema também já se tinha verificado na segunda temporada). 

Vou continuar a acompanhar, mas confesso que as minhas expectativas baixaram para a próxima temporada. Continuo a querer saber o que vai acontecer aos três personagens principais, e ao trabalho desenvolvido por M&J, especialmente tendo em conta os acontecimentos do último episódio.

 

Classificação: 8/10

Chérie, hoje apetecia-me ver... I Am Sam

Este filme de 2001 de que vos venho falar recebeu em Portugal o título A Força do Amor, o qual não podia ser mais apropriado. Conta a história de Sam Dawson (Sean Penn) um homem que tem a capacidade mental de uma criança de 7 anos, que trabalha no Starbucks e que adora os Beatles. Mas o verdadeiro centro da sua vida é a sua filha, Lucy Diamond (Dakota Fanning), que foi abandonada pela mãe à nascença, e que tem com o pai uma relação de grande cumplicidade. No entanto, à medida que Lucy cresce, as diferenças no desenvolvimento cognitivo entre ela e o pai começam a acentuar-se cada vez mais, e a capacidade de Sam em cuidar dela é posta em causa. Uma vez separados, Sam e Lucy de tudo farão para voltar a ficar juntos, e provar que all you need is love.

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Este filme conta uma história muito emocionante, e é impossível não gostarmos de Sam desde o primeiro minuto, pela sua ingenuidade, pelo seu humor e acima de tudo pelo seu grande coração e amor pela filha. Sam é um homem que quer provar a si mesmo e a todos os que rodeiam que apesar das suas dificuldades, que consegue ser o mais autónomo possível, mas que ao mesmo tempo não tem medo de pedir ajuda, pois é capaz de reconhecer as suas limitações. Sean Penn não é de todo um dos meus actores favoritos, mas esta foi a sua interpretação de que mais gostei, e pela qual foi nomeado pela terceira vez ao Óscar de Melhor Actor. 

Contudo, sempre que Dakota Fanning está em cena, rouba imediatamente toda a nossa atenção, pela sua interpretação de uma menina adorável e inteligente, que apesar de amar o pai começa a deparar-se com algumas dificuldades em relacionar-se com ele, especialmente quando começa a ir à escola.

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Apesar de o filme ter uma boa história, embora com alguns clichés típicos deste género de filmes, achei que esta podia ter sido contada de uma forma melhor. Por exemplo, o desenvolvimento de Lucy e a sua relação com o pai, que constituem a 1ª parte do filme, poderia ter sido mais explorada, e senti que a 2º parte dedicada à relação de Sam com a sua advogada de defesa Rita (Michelle Pfeiffer), e consequente ida a tribunal ocupou tempo demais. A última parte que lida com o resultado da audiência e as adaptaçoes feitas às vidas dos dois protagonistas, voltou a ser demasiado apressada, assim como o fim.

Uma das particularidades que mais gostei neste filme foi a banda sonora que é unicamente constituída por covers de músicas dos Beatles, e que além de se adaptarem perfeitamente ao filme, também despertaram em mim a vontade de ouvir mais desta banda (sim, eu confesso-vos que pouco ou nada conheço do trabalho desta banda, shame on me!).

Gostei particularmente do elenco secundário que serve de apoio a Sam, nomeadamente a sua vizinha agorafóbica Annie (Dianne Wiest) e o seu grupo de amigos, que incluía actores com deficiências reais, e que conferiram mais veracidade ao filme, além de ajudarem a mostrar que um homem como Sam é perfeitamente capaz de ter uma vida normal.

Em suma, foi um filme de que gostei muito, que me levou às lágrimas inúmeras vezes e que fiquei com vontade de rever. Podia estar mais bem construído, mas tendo em conta todas as mensagens transmitidas acho que merece:

 

Classificação: 7/10

Séries da minha vida #21 Mildred Pierce

Terminei recentemente uma mini-série que já andava há algum tempo para ver chamada Mildred Pierce, da HBO, composta por 5 episódios, e que estreou em 2011. É baseada no romance com o mesmo nome de James M. Cain, o qual também já tinha sido adaptado ao cinema. 

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A protagonista que dá nome à série é interpretada pela magnífica Kate Winslet, que recebeu por este papel um Globo de Ouro, um Emmy e um SAG. A história decorre em Glendale, na Califórnia e inicia-se nos anos 30, durante a Grande Depressão. Mildred Pierce é uma mãe de família que decide divorciar-se do marido Bert, e que se vê obrigada a procurar trabalho para sustentar as duas filhas, Veda e Ray. Orgulhosa, Mildred não aceita um trabalho qualquer, pois quer manter o seu estatuto social, mas acaba por trabalhar como empregada de mesa. Não querendo desapontar as filhas, especialmente Veda, Mildred utiliza o conhecimento que ganha nesse trabalho como rampa de lançamento para construir um império. Contudo, quanto maior é a subida, maior é a queda, e Mildred subestima os que estão à sua volta, bem mais perto do que imagina...

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Gostei imenso de assistir a esta série que nos dá a conhecer os altos e baixos desta mulher que inspira respeito desde o primeiro instante em que a vemos. Obviamente que muito se deve à interpretação de Kate Winslet, que faz aqui (mais) um brilhante trabalho. Mildred é uma personagem complexa, com muitas virtudes, mas também muitos defeitos, com a qual simpatizamos, pela qual sentimos pena e a quem muitas vezes temos vontade de "dar um abanão" para ver esta se apercebe do que se passa à sua volta. Foi muitíssimo interessante assistir ao seu crescimento, e à forma como esta se molda para agradar à sua ambiciosa filha Veda. Aliás, a relação entre estas duas é um dos principais focos da acção, a par da evolução de Mildred enquanto mulher de negócios, pois uma das componentes mais fortes na personalidade de Mildred é o facto de ser uma mãe (demasiado) extremosa, com um grande amor pelas filhas.

Em termos técnicos, é uma belíssima série, com um incrível guarda-roupa e cenários, e uma fotografia e realização impecáveis. O elenco secundário é composto por nomes bem conhecidos como Guy Pearce,  Melissa Leo, Mare Winningham ou Evan Rachel Wood, e que representam as várias facetas da vida de Mildred: o amor, a amizade, o trabalho e a família.

Além dos prémios acima referidos, Mildred Pierce venceu mais 4 Emmys das mais de 20 nomeações que recebeu, e foi nomeada a mais 4 Globos de Ouro, incluindo Melhor Mini Série.

 

Classificação: 8/10

Chérie, hoje apetecia-me ver... Albert Nobbs

Este é um daqueles filmes que quis muito ver na altura em que estreou, mas que por diversas razões acabou por ficar "pendurado" à espera que eu me decidisse a vê-lo. Estreado em 2011, foi nomeado a 3 Óscares que distinguiram as actuações de Glenn Close e Janet McTeer (nomeadas, respectivamente, como Melhor Actriz Principal e Secundária), e ainda Melhor Caracterização.

O protagonista desta história é um mordomo de um hotel situado na Irlanda, no século XIX, e que esconde um grande segredo: é na realidade uma mulher, que desde a sua juventude vive nesta segunda pele de Albert Nobbs. Com um porte impecável, extremamente competente e educado, Albert Nobbs é o empregado ideal, mas que representa um mistário para todos aqueles que o rodeiam, pois pouco ou nada sabem sobre ele. Pouco a pouco, ele vai amealhando dinheiro que lhe permitirá construir uma nova vida que seja realmente sua. Um dia, é contratado um pintor para o hotel, Hubert Page, o qual irá transformar a vida de Albert e dar-lhe um novo alento e ambição.

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Este filme constitui um projecto de Glenn Close, que além de dar vida a Albert, é também uma das argumentistas, e que ao longo de vários anos tentou adaptar a peça The Singular Life of Albert Nobbs ao cinema, em que também já tinha representado o protagonista.

Apesar de este filme ter algumas falhas, especialmente na exploração e desenvolvimento dos personagens, e na realização, a verdade é que gostei bastante dele, especialmente pelo personagem principal. Albert Nobbs é o homem que tudo vê, que respeita tudo e todos, e que mantém sempre um profissionalismo irrepreensível. É o empregado no qual se pode confiar absolutamente, mas que não recebe, de modo algum, a gratidão por todo o seu esforço. Apesar disso, ele mantém a sua conduta, porque sabe que se alguém tivesse algo a apontar-lhe, poderiam descobrir o seu segredo. E esse é o seu maior medo, pois é sob a pele de um homem que a sua sobrevivência depende. Mas Albert tem um sonho, o de ser ele a comandar o seu destino e ter o seu próprio negócio. Um personagem muitíssimo complexo e com uma história muito interessante, e que podia ter sido mais explorada ao longo das quase 2h do filme, em vez de ter sido dado tanto destaque aos personagens de Mia Wasikowska e Aaron Taylor-Johnson, bem como a outros secundários. 

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Glenn Close está irreconhecível neste filme, dissimulando-se, tal como o personagem que interpreta, numa segunda pele, e encarna o perfeito cavalheiro, sem que nunca se desconfie da sua verdadeira identidade, e que atingiu aqui a sua sexta nomeação aos Óscares, sem qualquer vitória.

Não poderia deixar de falar deste filme sem falar de Hubert Page, o tal pintor que apresenta a Albert uma nova perspectiva de vida, e que irrompe na sua vida rotineira como ar puro. É este personagem que será um dos grandes catalisadores do novo rumo que Albert decide dar à sua vida, e do seu destino final. Sem dúvida, um dos trunfos do filme.

Com elenco cheio de caras conhecidas, Albert Nobbs é um filme que nos transporta para uma época em que a mulher vivia fortes desigualdades sociais e que nos faz, tal como o protagonista, questionar muitas situações e vivências, e acima de tudo pensar. Foi um dos factores que mais gostei no filme, mas que por outro lado me desiludiu, porque fiquei sem respostas. Talvez tenha sido exactamente o objectivo. Podia ter mais qualidade e consistência na realização, e assim garantido mais aclamação, pois o protagonista merecia mais, mas apesar disso, revelou-se um filme interessante e que vive, sobretudo, dos seus dois personagens principais.

 

Classificação: 7/10