Séries da minha vida #26 Fargo
No ano passado estrearam dois fenómenos televisivos que foram a perdição dos espectadores e da crítica. Um deles foi True Detective, do qual já falámos aqui, e o outro foi Fargo. Esta constituía uma espécie de adaptação do filme com o mesmo título dos irmãos Coen, estreado em 1996.
Quando toda a gente começou a falar nesta série, eu decidi que a ia adicionar à minha watchlist, até porque sabia que o filme Fargo era considerado um dos melhores de sempre, fazendo até parte do Top 250 do IMDb. Contudo, eu ainda não tinha visto este filme, e por isso decidi que faria mais sentido vê-lo antes da série. Infelizmente, a história deste não me cativou particularmente, pelo que a minha vontade em ver a série diminuiu consideravelmente, razão pela qual a adiei até agora. Até que este Verão achei que não faria mal dar-lhe uma hipótese porque, afinal, são "só" 10 episódios, e podia sempre desistir se não gostasse... Ainda bem que o fiz, porque o primeiro episódio conquistou-me imediatamente, e os restantes não ficaram nada atrás.
Não quero adiantar muito acerca da história, mas conto-vos o essencial: mantendo-se fiel às raízes de outros trabalhos dos irmãos Coen, que são os produtores desta série, o protagonista é um homem que é testado diariamente até aos seus limites, e que se encontra num estado passivo à espera de algo que desencadeie uma explosão que o liberte. Esse "algo" virá sob a forma de Lorne Malvo (Billy Bob Thornton), que levará este homem, Lester Nygaard (Martin Freeman), a questionar as suas atitudes e as dos outros, sendo o responsável pela notável metamorfose que Lester sofre ao longo de 10 episódios.
Sinceramente não sei como falar de todos os pontos positivos desta série, porque são infindáveis. Penso que o principal é o argumento, que é brilhante, e que nos conta uma história que tem tanto de drama como de comédia, de thriller e de romance, de crime e de família, e que nos oferece cenas, frases e personagens únicas. Noah Hawley, o argumentista e realizador desta série, conseguiu criar um conjunto de situações incríveis que se inter-relacionam das formas mais impossíveis, e soube contá-las da melhor forma, recorrendo muitas vezes a recuos no tempo, que permitiram pouco a pouco saber os antecedentes dos vários personagens. E que personagens!, até as mais insignificantes são complexas, cómicas e deliciosas.
O que me leva ao segundo grande factor desta série: o elenco. Billy Bob Thornton encarna um vilão maravilhosamente insensível e sádico, excêntrico e irresistível. Tanto ele como Martin Freeman mostraram aqui tudo aquilo de que são capazes de fazer, dando um verdadeiro "show" de representação. Os outros actores também são bastante bons, especialmente Allison Tolman, a heroína da história, no papel da agente Molly Solverson. Além destes, temos ainda outros nomes conhecidos como Colin Hanks, Bob Odenkirk, Oliver Platt ou Kate Walsh.
Foram várias as vezes em que depois de ver uma cena marcante, voltei atrás para a rever, uma e outra vez, surpreendida com a qualidade do que estava a ver. Sim, porque além do argumento e dos actores, a forma como a série foi executada a um nível mais técnico foi também irrepreensível. Falo da banda sonora que me lembrou a de Birdman, e que aumentava exponencialmente a qualidade do que via, e da fotografia e realização impecáveis que me transportaram para as paisagens geladas do Minnesota.
Relativamente a comparações com o filme, já devem ter percebido que gostei muito mais da série, e que acho que esta tem uma qualidade bastante superior. É um produto bastante diferente em termos de história, não existindo personagens em comum, mas sim situações e certos aspectos que nos remetem imediatamente para o filme, de certa forma homenageando-o. Existe até uma cena que nos indica que os acontecimentos desta série decorrem posteriormente aos do filme, o que constitui um bónus.
Que mais posso dizer, de forma a convencer quem ainda não viu esta série, a dar-lhe uma hipótese? Se não adoraram o filme, tal como eu, não perdem nada em tentar. Se é um dos vossos favoritos e estão com medo de sair desiludidos, então estão a perder tempo: do que li, todos os fãs do filme são fãs da série. Se nunca viram o filme, então ainda é melhor, porque não sabem praticamente nada do que podem encontrar.
Classiificação: 9/10