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La Vie en Chérie

Para os apaixonados por moda, cinema, livros e por uma vida doce e divertida

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Neste Dia... 6 de Novembro

Hoje prestamos homenagem a uma das maiores escritoras portuguesas: Sophia de Mello Breyner Andresen. Se fosse viva, a escritora nascida no Porto, em 1919, faria hoje 96 anos.

Nascida numa família com raízes aristocratas, estudou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, apesar de nunca ter concluído o curso. Durante a sua juventude foi dirigente de movimentos universitários, escreveu para uma revista, e pertenceu a movimentos políticos que se opunham ao regime. Casou-se em 1946, tendo cinco filhos, entre os quais o também escritor, Miguel Sousa Tavares. Chegou a pertencer à Assembleia Constituinte do Porto, para a qual foi eleita em 1975. 

Sophia de Mello Breyner Andresen.jpg

 

Na escrita, distinguiu-se principalmente enquanto poetisa, mas também enquanto escritora de livros infantis. Na sua obra, a Natureza e o mar são temas predominantes, bem como a infância, a justiça  ou a vida e a morte. Entre 1945 e 2001 publicou mais de 20 livros de poesia, escreveu peças de teatro e vários ensaios, e foi ainda responsável pela tradução de grandes obras clássicas, como Medeia ou Hamlet. Publicou ainda 10 livros de contos, a maioria dos quais infantis. Ao longo da sua carreira recebeu vários e prestigiados prémios, entre os quais se encontram o Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores, o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças, ou o Prémio Camões, em 1999, o mais importante galardão da literatua portuguesa, sendo que foi a primeira mulher a receber esse prémio.

Sophia viria a falecer a 2 de Julho de 2004, com 84 anos, sendo que em 2014 o seu corpo foi transferido para o Panteão Nacional.

Pessoalmente, não conheço muito da sua obra poética, mas li muitos dos seus contos infantis. A Fada Oriana, O Rapaz de Bronze, A Menina do Mar, A Floresta ou O Cavaleiro da Dinamarca fazem parte do meu imaginário infantil, e foram dos melhores livros para crianças que tive oportunidade de ler.

Livraria Chérie #15 O Último Cais

O livro que me acompanhou no passado mês de Setembro foi O Último Cais, um romance da jornalista e escritora portuguesa Helena Marques. Foi o seu primeiro livro, tendo sido publicado em 1992, e tendo vencido vários prémios. Actualmente faz parte do Plano Nacional de Leitura.

A história decorre maioritariamente no Funchal durante o século XIX, e acompanha várias personagens de algumas famílias madeirenses, focando-se maioritariamente na vida de Marcos Vaz de Lacerda, e na sua esposa, Raquel Passos Villa. Todos os outros personagens do livro encontram-se relacionados de alguma forma com este casal, sendo que cada capítulo desta obra se foca num núcleo de personagens diferente.

Marcos e Raquel eram ainda jovens quando se casaram, tendo construído uma família feliz com os dois filhos, André e Benedita. Marcos é médico e viaja bastante, sendo através dele que ficamos a conhecer a realidade política da época, em que vários países africanos procuravam obter a sua independência das grandes potências europeias. Raquel é uma sonhadora feliz que nos dá a conhecer a perspectiva feminina da época e que funciona como um modelo para as restantes mulheres, pela sua personalidade forte, mas também pelo seu espírito feliz.

 

O Último Cais - Helena Marques.jpg

 

Este livro é maioritariamente um livro de mulheres, em que estas assumem protagonismo, e em que cada uma delas representa uma diferente forma de encarar a vida, mas em que todas têm um carácter forte e digno, procurando construir as suas vidas de acordo com aquilo que acreditam, e sem terem de se sujeitar aos seus familiares, como seria de esperar na época.

Ao longo dos vários capítulos são-nos apresentadas diferentes perspectivas da sociedade madeirense e portuguesa da altura, focando-se em vários temas como o papel da mulher, feita para o casamento e para ter filhos, e de quem se espera sempre um comportamento exemplar, e por oposição a esta, a liberdade do homem para viajar, para adulterar, para trabalhar, para ser livre sem prestar contas a ninguém. O casamento é abordado várias vezes, mostrando-se através de vários pares as diferentes realidades que cada casal encontra. Outros assuntos abordados são a bigamia; o sufrágio feminino; a religião e o papel da Igreja e de Deus na sociedade, bem como as dúvidas existenciais que lhe são inerentes; a educação e o trabalho femininos; a infertilidade, entre outros.

Como podem perceber pelos temas abordados, este é um livro humano, em que se aborda o ser humano no seu todo: físico, emocional, intelectual, filosófico e espiritual, e que nos leva juntamente com as personagens numa viagem pelas suas vidas, principalmente naquilo que se passa dentro de cada uma, o que sentem, o que pensam, como se relacionam.

Muitíssimo bem escrito, articulado e cativante, é fácil perdermo-nos nas descrições feitas, seja dos ambientes, seja das personalidades de cada um, e sentirmo-nos parte do seu pequeno universo. A escrita é a meu ver, quase poética e musical, com um toque familiar, que explica o nosso fácil envolvimento com as histórias relatadas. Poderá não ser o livro mais original que li, mas é um retrato fiel da época e do ser humano, das suas dúvidas e pensamentos, dos seus sentimentos e das várias fases que este atravessa.

Trata-se de um livro relativamente pequeno, não chegando a 200 páginas na edição de bolso, mas que só é pequeno no tamanho. Recomendo vivamente.

 

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