Noticiário Chérie #2 Violência Hospitalar
Ultimamente muito se tem falado acerca das urgências dos hospitais e da sua (in)eficácia, especialmente tendo em conta a ocorrência de mortes de doentes enquanto esperavam por atendimento.
A propósito do assunto, soube-se esta semana que o número de agressões a profissionais de saúde quase triplicou em Portugal, no ano passado.
Este fenómeno não é de agora, mas apenas em 2007 foi criado pela Direcção Geral de Saúde um registo para o número de casos de violência praticados contra estes profissionais. Esta definição de violência abrange os insultos e ameaças, que constituem a maioria, bem como as agressões físicas. Desde esse ano que os números têm vindo a crescer, mas apenas entre 2013 e 2014 se verificou um aumento exponencial do número de casos: se em 2013 tinham sido 202, em 2014 foram 531!
Confesso que esta situação me era desconhecida, apesar de não ser difícil imaginar que, se há violência por parte de crianças e jovens a professores, muito mais há por parte de adultos, principalmente em situações de stress como as vividas em ambiente hospitalar. Mas ainda assim, fiquei deveras surpreendida com estes números e com a violência que se vive no nosso pequeno rectângulo à beira mar plantado.
De acordo com as razões apresentadas pelos especialistas no assunto, o ambiente de crise económica vivido em Portugal, o crescente tempo de espera pelo atendimento e a insatisfação sentida pelos utentes são as principais razões para a explicação destes números. Talvez a maior afluência ao ambiente hospitalar ou a diferente posição dos profissionais de saúde ao problema também tenha alguma influência, com estes a terem mais coragem para registarem as queixas.
“Sempre houve violência, mas agora as pessoas estão mais intransigentes. Estão exasperadas e canalizam a frustração para os enfermeiros, médicos, auxiliares”. Explica um médico.
Mas a verdade é que estas razões são insuficientes, pois de acordo com casos apresentados na notícia do Jornal Público, o motivo que leva um utente ou um acompanhante a agredir um profissional de saúde pode ser bem mais fútil: o sexo do seu bebé, por exemplo.
A verdade é que, com razões ou sem razões, a violência é injustificável. E a mim assusta-me esta realidade em que um profissional, ao tentar fazer o seu trabalho o melhor que sabe, se veja perante a situação em que acabe o seu dia inconsciente, após ter ido de encontro uma parede na sequência de uma agressão perpetrada por aqueles para quem trabalha. Que realidade é esta em que vivemos?
Compreendo, e sei por experiência própria, que o tempo de espera numa urgência possa ser das situações mais exasperantes que possamos viver, quer quando estamos nós em perigo, quer quando são aqueles que nos são mais queridos, mas sob forma alguma a violência é solução. Pelo contrário, só vai complicar muito mais a situação.
E acima de tudo, é uma questão de respeito e educação para com os outros, que são seres humanos tal como nós, que também eles vivem situações de stress diariamente no seu emprego e que merecem a nossa compreensão. Infelizmente, vive-se em Portugal uma era de tensão permanente. As pessoas estão revoltadas e têm vindo a acumular muitos problemas resultantes de uma má gestão governamental e institucional. Mas acima de tudo, o que penso estar na raíz do problema é de facto o carácter e educação de cada um. Porque assim como existem muitas pessoas em más condições sócio-económicas que vivem, apesar de tudo, com um sorriso no rosto, também existem outras que pela simples razão de uma situação não lhes correr de feição, descarregam as suas frustrações nos outros.
Os profissionais de saúde mais afectados são os enfermeiros, o que é compreensível, tendo em conta que são estes os mais expostos. Para além das sequelas deixadas pelas agressões sofridas, os profissionais de saúde queixam-se ainda da falta de apoio por parte das administrações dos hospitais na gestão dos casos, e na falta de prevenção. Apesar disso, verifica-se já a existência de linhas de emergência, de “botões de pânico” ligados à PSP em alguns hospitais. Foi nos centros de saúde que se verificou o maior número de casos, e nos hospitais, dentro das urgências e nos serviços de psiquiatria.
Se me leram até aqui, talvez tenham ficado estupefactos como eu com esta realidade, e acima de tudo com este povo conhecido por ser "de brandos costumes", mas que vai na volta e é tão violento como qualquer outro. Repito-me: "Que realidade é esta em que vivemos?".